Ensinar.
Voo. Gaiola. Encorajar. Escolas. Amar.
Certamente o aforismo nasce de um
assombro, brota no momento exato no qual há uma suspensão do pensamento por não
saber por onde ou como continuar, pois a ideia motriz foi desafiada.
Rubem Alves, educador, escritor e mestre
do assombro nos convida, através de diversos livros, vídeos, palestras e outros
a partilhar de diversas situações que possibilitaram sua caminhada depois de
parar e refletir, sofrer e sorrir, pensar e escrever.
Por exemplo, o educador nos desafia ao
relatar um episódio que o fez sofrer, pensar, escrever. Palavras
dele:
“esse simples aforismo nasceu de um sofrimento: sofri conversando com
professoras do ensino médio em escolas de periferia. O que eles contam são
relatos de horror e medo. Balbúrdia, gritaria, desrespeito, ofensas, ameaças...
E eles, timidamente, pedindo silêncio, tentando fazer as coisas que a
burocracia determina que sejam feitas: dar o programa, fazer avaliações...
Ouvindo os seus relatos, vi uma jaula cheia de tigres famintos, dentes
arreganhados, garras à mostra – e os domadores com os seus chicotes, fazendo
ameaças fracas demais para a força dos tigres...”
Gaiolas, esta é a imagem que resulta
deste relato. Naquelas professoras (e) e alunos (a) se debatem tentando sair,
porém há portas e trancas, chaves e cadeados.
Segundo o autor, há escolas que são
gaiolas e escolas que são asas. Escolas que controlam e escolas que encorajam.
Outras que prendem e outras que libertam.
É inegável que a escola pode ser um
espaço rico onde alunos e professores desenvolvam a inteligência que os
capacite para explorar, proteger e inferir no mundo natural e o criado pela
ação humana. Para tanto, é necessário que sejam respeitadas as peculiaridades
inerentes às interações e às diferenças. Rubem Alves ao citar Nietzsche deixa
claro o que pensa sobre educação. Diz ele: “Nietzsche dizia que ela, a
inteligência, era a “ferramenta” e “brinquedo” do corpo” e segue explicando que
as “ferramentas” são os conhecimentos e os “brinquedos” são todas as coisas sem
utilidade, porém dão prazer.
Todavia, se não nos espantarmos com a
folha que cai, nosso aluno verá a folha como parte da planta sem nenhuma função
além de ser parte, desprezando que a folha pode ser também uma parte do
arco-íris, pois é verde; uma parte do rio que “hoje está verde”, pois o céu
está esverdeado e outros tantos matizes e formas, odores e humores.
Exercitar o olhar, o tato, olfato,
arrepiar-se com a brisa precisam ser nossos brinquedos para que possamos
revisar, reescrever, suscitar leituras, pesquisas, olhares sobre este
objeto-ação ao qual denominamos educação. Ampliar este conceito para além das
amarras impostas pela burocracia que engessa/engaiola como bem define Rubem
Alves e desafio cotidiano em uma sociedade ainda em pleno desenvolvimento
democrático. Conforme o autor, as escolas podem ser espaços onde os seres,
tanto alunos quanto professores podem voar pelos caminhos do mundo e da alma.