Territorialidade,
Representação Social e Identidade
Indiscutivelmente,
para discutir Identidade e Representação Social, é necessário que seja elencado
também e complementarmente o território, pois é neste que se estabelecem as
interações e destas resulta a cultura.
De
acordo com Ana Lucia Enne e Marina Dutra (2016) apud Rogério Haesbaert (2004) e
Milton Santos (1994), “territorialidades se configuram no cotidiano, nas
práticas dos agentes no território habitado, que, neste sentido, se configura
sempre, em alguma medida, como território vivido, usado, significado”.
Portanto,
o indivíduo enquanto sujeito em diversas circunstâncias estará lapidando sua
identidade e conforme Lícia Maria Vieira Vasconcellos e Vitor Nunes Caetano
(2014), aquela “está sempre em construção, já que interage com as
transformações vivenciadas no contexto social, responsáveis pela infinita
produção de cultura(s).
Não
só interage, mas contribui para viabilizar ações que abarquem outros sujeitos e
este movimento é uma categoria social, qual seja, a representação social que
segundo Vasconcellos e Caetano (2014) apud Jodelet (1989) é “uma forma de
conhecimento, socialmente mais desenvolvido e compartilhado com projetos
práticos e contribuindo para a construção de uma realidade comum ao grupo
social
Ainda,
de acordo com Vasconcelos e Caetano (2014), “as representações intervêm ainda
em processos tão variados como a difusão e a assimilação de conhecimento, a
construção de identidades pessoais e sociais, o comportamento intra e
intergrupal, as ações de resistência e de mudança social”.
De
tal forma que, uma cidade é composta por disputas advindas das ações de
resistência diante da mudança social, que é determinada pela economia,
geografia humana, mudanças ambientais, decisões dos gestores públicos,
mobilidade urbana e outras.
Diante
deste quadro, resultado da territorialidade, representação e identidade, cito o
exemplo da construção de uma obra, considerada monumento pela sua magnitude e
beleza arquitetônica, que é resultado de uma decisão governamental, que teve
como mote a necessidade de ligar um ponto á outro da Capital do RS, no caso o
Centro Histórico à Zona Sul, na época um arrabalde.
O
monumento mencionado é o Viaduto Otávio Rocha, construído no século passado e
que à época impactou a população das cercanias, pois uma das exigências para a
obra iniciar era a desapropriação de alguns moradores ou comerciantes
instalados.
Certamente
houve episódios que renderam disputas, pois os habitantes das imediações da
obra possuíam uma rotina na qual calcavam ações do cotidiano, resolviam suas
necessidades imediatas baseadas na geografia de então, quer dizer, interagiam
no espaço de acordo com as condições oferecidas.
Visto
que foi uma obra que acarretou alterações na dinâmica da sociedade porto-alegrense
é importante conhecer a história que remonta ao século XIX.
História
do Viaduto Otávio Rocha/Porto Alerge/RS
O
Viaduto Otávio Rocha foi inaugurado em 1932. As obras começaram em 1926,
durante o mandato do intendente Otávio Rocha (1924-1928), apesar de já estarem
previstas no Plano Diretor de 1914. A decisão de abrir a Avenida Borges de
Medeiros, ligando o Centro à Zona Sul da cidade, e construir o Viaduto foi de
Otávio Rocha e do presidente do Estado, Borges de Medeiros. Naquela época, o
número de porto-alegrenses não ultrapassava os 200 mil.
O
projeto da Avenida Borges de Medeiros começou a ser pensado em 1926 com a
participação do governador do Estado, Borges de Medeiros, objetivando conectar
a zona sul ao centro de Porto Alegre.
Para
concretizar a abertura da avenida foi necessário recortar o espigão que
atravessa a área central, ocasionando uma descontinuidade na Rua Duque de
Caxias, restabelecida através de uma passagem de nível - o Viaduto Otávio
Rocha.
Em
1928 são efetuadas várias desapropriações, o trabalho de terraplanagem é
iniciado e os projetos, executados pelos engenheiros Manoel Itaquy e Duilio
Bernardi, são entregues.
O
primeiro viaduto da cidade, tratado de forma monumental, foi inaugurado em
1932. Para os cidadãos da época a obra resumiu a imagem de uma Porto Alegre moderna (Pesavento, 1991). Suas
características arquitetônicas, bem como sua relevância sociocultural, levaram
o município a inscrevê-lo no Livro Tombo sob o registro número 26, em 31 de
outubro de 1988.
As
obras de restauração ocorreram no ano de 2000 e 2001 e foram entregues em
agosto deste último.
Em
19 de setembro de 2008, uma lei municipal determinou que o espaço público
superior do Viaduto Otávio Rocha passasse a ser chamado de “Passeio das Quatro
Estações”. Cada uma das quatro escadarias passou a ser identificada por placas
com o nome das estações do ano:
—
Passeio Verão – com início na Rua Jerônimo Coelho e fim na Rua Duque de Caxias,
lado direito do Viaduto, no sentido norte-sul,
—
Passeio Outono – com início na Rua Jerônimo Coelho e fim na Rua Duque de
Caxias, lado esquerdo do Viaduto, no sentido norte-sul,
—
Passeio Inverno – com início na Rua Duque de Caxias e fim na Rua Coronel
Fernando Machado, lado direito do Viaduto, no sentido norte-sul,
—
Passeio Primavera – com início na Rua Duque de Caxias e fim na Rua Coronel
Fernando Machado, lado esquerdo do Viaduto, no sentido norte-sul.
Atualmente
o Viaduto Otávio Rocha possui 34 lojas com diversas atividades, tais como
lancherias, artesanato, discos-fitas, serviço de fotocópias, produtos para
mágicos, relojoeiro, lotérica, artigos religiosos, barbearia, material
fotográfico, uma loja da Agadisc, com CDs independentes de músicos gaúchos e uma
loja da Etiqueta Popular, projeto da Smic de incentivo ao comércio de
artesanato e confecções locais.
Este
histórico é resultado de uma compilação feita a partir do site
oficial da PMPA e de um artigo publicado no
blog do Milton Ribeiro. A ressalva se
deve ao fato de que há informações importantes referentes à construção do
Viaduto que não constam no histórico. Também, neste histórico não há
referências á situação atual do Viaduto e estas são de suma importância, pois
aquele está situado na região central da Capital, abriga inúmeros comércios e
residências, centenas de pessoas circulam diariamente por este espaço e nos
últimos anos o descuido do monumento é visível e aliado a este dado há uma
população desassistida morando sob o vão das escadarias.
Por
consequência esta área da cidade está abandonada, mal iluminada, suja, perigosa
para todos que ali circulam e habitam tanto os que moram nas residências, na
ocupação urbana Comunidade
Autônoma Utopia e Luta, quanto para os moradores de rua.
Se a
interação da sociedade com seu espaço resultam em novos conhecimentos que podem
contribuir para a realidade comum, o que está acontecendo?
Olhando
por outro prisma, se as representações sociais resultam em ações de mudanças
sociais e resistência, ficam as perguntas, há resistência? A mudança social não
acolhe o morador de rua?
Dentre
documentos, vídeos, entrevistas e outros selecionei alguns vídeos que iluminam
o debate e talvez responda algumas destas questões que aguardam respostas e atores.
Vídeos:
Vídeo
1: “A Construção do Viaduto Otávio Rocha” por Ronaldo Marcos Bastos. Ano 2013
Este
vídeo remonta à época da iniciativa do
Intendente José Montaury de alargar a Rua Gal Paranhos, hoje um trecho que
compõe a Avenida Borges de Medeiros. Também faz alusão ao descaso da sociedade
civil e dos gestores públicos pelo
monumento, por ele assim nomeado, Viaduto Otávio Rocha.
https://www.youtube.com/watch?v=X3AyVyFprVc
Acesso: 11/12/2016
Vídeo
2: “ Ayres Cerutti e o Viaduto da Borges 1”. Ano 2013
Jornalista
e produtor cultural, Ayres Cerutti aponta belezas e mazelas do ponto turístico
que compõe o mapa
da capital do RS.
https://www.youtube.com/watch?v=pHbcvz79fus
Acesso: 11/12/2016
Vídeo
3: “Insólitos | Sonhos e destinos dos moradores de rua” por Richard B. Günter .
Neste
vídeo um grupo de estudantes de Jornalismo/PUC/RS, ano de 2013, acompanha
moradores de rua que vivem nas cercanias do Viaduto Borges de Medeiros.
https://www.youtube.com/watch?v=3Jp-odLhHo8
Acesso: 11/12/2016
Vídeo
4: “Centro Histórico de Porto Alegre: viaduto Otávio Rocha, Avenida Borges de
Medeiros” por Paula Oliveira. Ano 2013
https://www.youtube.com/watch?v=FT9bnvZ6WdQ
Acesso: 11/12/2016
Vídeo
5: “Cidadãos de Bem” por Clovis Inoue
Representação
social e resistência. Protesto contra decisões arbitrárias e recorrentes sobre
o preço das tarifas
do transporte público. Ano 2013
https://www.youtube.com/watch?v=EzpNpnCHJro
Acesso: 11/12/2016
Vídeo
6: “Viaduto Otávio Rocha: Vilson Quadros”, por defenderorgbr. Ano 2011
Sujeito
e seu olhar sobre o espaço público. Ele, comerciante. Espaço: salas comerciais situadas
no térreo da escadaria do Viaduto Otávio Rocha.
https://www.youtube.com/watch?v=xvN6cLf4Uxc
Acesso: 11/12/2016
Referências:
https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/1795293/mod_resource/content/1/13-Vasconcellos_e_Caetano.pdf
Acesso: 11/12/2016
http://miltonribeiro.sul21.com.br/2015/01/08/um-local-de-porto-alegre-o-viaduto-otavio-rocha-o-viaduto-da-borges-fotos/
Acesso: 11/12/2016
https://becodorosario.files.wordpress.com/2016/06/a_mascara_06021925_viaduto_duquecaxias_c_w.jpg?w=720
Acesso: 11/12/2016
http://www.sul21.com.br/jornal/assentamento-em-predio-publico-de-porto-alegre-desafia-politica-habitacional/
Acesso: 11/12/2016
http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/entre-conter-e-resistir-relacoes-entre-cultura-e-territorialidades/ Acesso: 11/12/2016