domingo, 11 de dezembro de 2016



  Territorialidade, Representação Social e Identidade





Indiscutivelmente, para discutir Identidade e Representação Social, é necessário que seja elencado também e complementarmente o território, pois é neste que se estabelecem as interações e destas resulta a cultura.
De acordo com Ana Lucia Enne e Marina Dutra (2016) apud Rogério Haesbaert (2004) e Milton Santos (1994), “territorialidades se configuram no cotidiano, nas práticas dos agentes no território habitado, que, neste sentido, se configura sempre, em alguma medida, como território vivido, usado, significado”.
Portanto, o indivíduo enquanto sujeito em diversas circunstâncias estará lapidando sua identidade e conforme Lícia Maria Vieira Vasconcellos e Vitor Nunes Caetano (2014), aquela “está sempre em construção, já que interage com as transformações vivenciadas no contexto social, responsáveis pela infinita produção de cultura(s).
Não só interage, mas contribui para viabilizar ações que abarquem outros sujeitos e este movimento é uma categoria social, qual seja, a representação social que segundo Vasconcellos e Caetano (2014) apud Jodelet (1989) é “uma forma de conhecimento, socialmente mais desenvolvido e compartilhado com projetos práticos e contribuindo para a construção de uma realidade comum ao grupo social
Ainda, de acordo com Vasconcelos e Caetano (2014), “as representações intervêm ainda em processos tão variados como a difusão e a assimilação de conhecimento, a construção de identidades pessoais e sociais, o comportamento intra e intergrupal, as ações de resistência e de mudança social”.
De tal forma que, uma cidade é composta por disputas advindas das ações de resistência diante da mudança social, que é determinada pela economia, geografia humana, mudanças ambientais, decisões dos gestores públicos, mobilidade urbana e outras.
Diante deste quadro, resultado da territorialidade, representação e identidade, cito o exemplo da construção de uma obra, considerada monumento pela sua magnitude e beleza arquitetônica, que é resultado de uma decisão governamental, que teve como mote a necessidade de ligar um ponto á outro da Capital do RS, no caso o Centro Histórico à Zona Sul, na época um arrabalde.
O monumento mencionado é o Viaduto Otávio Rocha, construído no século passado e que à época impactou a população das cercanias, pois uma das exigências para a obra iniciar era a desapropriação de alguns moradores ou comerciantes instalados.
Certamente houve episódios que renderam disputas, pois os habitantes das imediações da obra possuíam uma rotina na qual calcavam ações do cotidiano, resolviam suas necessidades imediatas baseadas na geografia de então, quer dizer, interagiam no espaço de acordo com as condições  oferecidas.
Visto que foi uma obra que acarretou alterações na dinâmica da sociedade porto-alegrense é importante conhecer a história que remonta ao século XIX.

História do Viaduto Otávio Rocha/Porto Alerge/RS
O Viaduto Otávio Rocha foi inaugurado em 1932. As obras começaram em 1926, durante o mandato do intendente Otávio Rocha (1924-1928), apesar de já estarem previstas no Plano Diretor de 1914. A decisão de abrir a Avenida Borges de Medeiros, ligando o Centro à Zona Sul da cidade, e construir o Viaduto foi de Otávio Rocha e do presidente do Estado, Borges de Medeiros. Naquela época, o número de porto-alegrenses não ultrapassava os 200 mil.
O projeto da Avenida Borges de Medeiros começou a ser pensado em 1926 com a participação do governador do Estado, Borges de Medeiros, objetivando conectar a zona sul ao centro de Porto Alegre.
Para concretizar a abertura da avenida foi necessário recortar o espigão que atravessa a área central, ocasionando uma descontinuidade na Rua Duque de Caxias, restabelecida através de uma passagem de nível - o Viaduto Otávio Rocha.
Em 1928 são efetuadas várias desapropriações, o trabalho de terraplanagem é iniciado e os projetos, executados pelos engenheiros Manoel Itaquy e Duilio Bernardi, são entregues.
O primeiro viaduto da cidade, tratado de forma monumental, foi inaugurado em 1932. Para os cidadãos da época a obra resumiu a imagem de uma  Porto Alegre moderna (Pesavento, 1991). Suas características arquitetônicas, bem como sua relevância sociocultural, levaram o município a inscrevê-lo no Livro Tombo sob o registro número 26, em 31 de outubro de 1988.

As obras de restauração ocorreram no ano de 2000 e 2001 e foram entregues em agosto deste último.
Em 19 de setembro de 2008, uma lei municipal determinou que o espaço público superior do Viaduto Otávio Rocha passasse a ser chamado de “Passeio das Quatro Estações”. Cada uma das quatro escadarias passou a ser identificada por placas com o nome das estações do ano:
— Passeio Verão – com início na Rua Jerônimo Coelho e fim na Rua Duque de Caxias, lado direito do Viaduto, no sentido norte-sul,
— Passeio Outono – com início na Rua Jerônimo Coelho e fim na Rua Duque de Caxias, lado esquerdo do Viaduto, no sentido norte-sul,
— Passeio Inverno – com início na Rua Duque de Caxias e fim na Rua Coronel Fernando Machado, lado direito do Viaduto, no sentido norte-sul,
— Passeio Primavera – com início na Rua Duque de Caxias e fim na Rua Coronel Fernando Machado, lado esquerdo do Viaduto, no sentido norte-sul.
Atualmente o Viaduto Otávio Rocha possui 34 lojas com diversas atividades, tais como lancherias, artesanato, discos-fitas, serviço de fotocópias, produtos para mágicos, relojoeiro, lotérica, artigos religiosos, barbearia, material fotográfico, uma loja da Agadisc, com CDs independentes de músicos gaúchos e uma loja da Etiqueta Popular, projeto da Smic de incentivo ao comércio de artesanato e confecções locais.

Este histórico é resultado de uma compilação feita a partir do site oficial da PMPA e de um artigo publicado no blog do Milton Ribeiro.  A ressalva se deve ao fato de que há informações importantes referentes à construção do Viaduto que não constam no histórico. Também, neste histórico não há referências á situação atual do Viaduto e estas são de suma importância, pois aquele está situado na região central da Capital, abriga inúmeros comércios e residências, centenas de pessoas circulam diariamente por este espaço e nos últimos anos o descuido do monumento é visível e aliado a este dado há uma população desassistida morando sob o vão das escadarias.
Por consequência esta área da cidade está abandonada, mal iluminada, suja, perigosa para todos que ali circulam e habitam tanto os que moram nas residências, na ocupação urbana Comunidade Autônoma Utopia e Luta,   quanto para os moradores de rua.
Se a interação da sociedade com seu espaço resultam em novos conhecimentos que podem contribuir para a realidade comum, o que está acontecendo?
Olhando por outro prisma, se as representações sociais resultam em ações de mudanças sociais e resistência, ficam as perguntas, há resistência? A mudança social não acolhe o morador de rua?
Dentre documentos, vídeos, entrevistas e outros selecionei alguns vídeos que iluminam o debate e talvez responda algumas destas questões que  aguardam respostas e atores.

Vídeos:




Vídeo 1: “A Construção do Viaduto Otávio Rocha” por Ronaldo Marcos Bastos. Ano 2013
Este vídeo remonta à época da iniciativa do Intendente José Montaury de alargar a Rua Gal Paranhos, hoje um trecho que compõe a Avenida Borges de Medeiros. Também faz alusão ao descaso da sociedade civil e dos gestores públicos pelo  monumento, por ele assim nomeado, Viaduto Otávio Rocha.


Vídeo 2: “ Ayres Cerutti e o Viaduto da Borges 1”. Ano 2013
Jornalista e produtor cultural, Ayres Cerutti aponta belezas e mazelas do ponto turístico que compõe o mapa da capital do RS.


Vídeo 3: “Insólitos | Sonhos e destinos dos moradores de rua” por Richard B. Günter .
Neste vídeo um grupo de estudantes de Jornalismo/PUC/RS, ano de 2013, acompanha moradores de rua que vivem nas cercanias do Viaduto Borges de Medeiros.


Vídeo 4: “Centro Histórico de Porto Alegre: viaduto Otávio Rocha, Avenida Borges de Medeiros” por Paula Oliveira. Ano 2013


Vídeo 5: “Cidadãos de Bem” por Clovis Inoue
Representação social e resistência. Protesto contra decisões arbitrárias e recorrentes sobre o preço das tarifas do transporte público. Ano 2013


Vídeo 6: “Viaduto Otávio Rocha: Vilson Quadros”, por defenderorgbr. Ano 2011
Sujeito e seu olhar sobre o espaço público. Ele, comerciante. Espaço: salas comerciais situadas no térreo da escadaria do Viaduto Otávio Rocha.




    Referências:






http://www.sul21.com.br/jornal/assentamento-em-predio-publico-de-porto-alegre-desafia-politica-habitacional/ Acesso: 11/12/2016

http://revistazcultural.pacc.ufrj.br/entre-conter-e-resistir-relacoes-entre-cultura-e-territorialidades/ Acesso: 11/12/2016

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