sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Vista minha pele (video completo)

Diferenças Significativas[i]

“[...] estou referindo-me ao preconceito que, como a própria construção da palavra indica, é um conceito que formamos aprioristicamente, anterior portanto a nossa experiência.” (AMARAL, 1998, p.17)

Sem dúvida alguma, as interações experienciadas nas instituições de ensino refletem os discursos  resultantes das relações vivenciadas em outras esferas da sociedade e dentre tantos, o discurso sobre deficiência é o que provoca mais estranhamento por ser aquela impregnada de estigmas.
É inquestionável que marcas e sinais constituem a elaboração do estereótipo que é a expressão do preconceito e este impede que o planejamento das atividades no ambiente escolar acolham os indivíduos portadores de diferenças significativas, que Ligia Amaral (1998) evoca

“ [...] não estarei, a partir daqui, falando de aspectos remetidos a peso, cor, cognição, opção sexual, religião, envelhecimento etc. (alguns dos quais estarão sendo abordados em outros capítulos por outros autores), embora importantes interfaces existam e possam ser exploradas. Estarei, sim, centrando minhas colocações numa diferença significativa, num desvio peculiar: a deficiência. E, dentro de seu amplo gradiente, estarei focalizando aquelas remetidas mais claramente à questão corporal: deficiência física e deficiência sensorial.” (AMARAL, 1998, p.21)


Se a escola é a instituição responsável pelo acolhimento de todos os sujeitos em idade escolar e deve atender os educandos com necessidades especiais, deverá para tal ação, mediar o impacto causado pelo preconceito que ainda vigora na sociedade para que haja inclusão efetiva daqueles.
De acordo com Carlos Skliar, a inclusão das pessoas com necessidade especiais ainda é um projeto, pois como ele adverte

“ [...] se a gente fala tanto da inclusão, quiçá é porque ela não existe. É muito curioso que nos países que melhor façam a inclusão, essa palavra tenha desaparecido.  Por que? Porque essa palavra se pronuncia muito quando essa palavra falta. Quando ela não existe.”[ii] Carlos Skliar

Por exemplo, enquanto alunas da graduação, temos sido desafiadas a produzir materiais sobre o tema e nos defrontamos com barreiras existentes no sistema educacional, quais sejam, dados indisponíveis, acesso negado aos profissionais do AEE, a negativa das escolas em reconhecer os sujeitos com diferenças significativas, discussão sem conclusões sobre a necessidade ou não do laudo clínico e outras tantas demandas que impedem o reconhecimento de que somos naturalmente diversos como seres da natureza, portanto a deficiência, a incapacidade e a desvantagem serão os resultados imediatos reproduzindo o preconceito existente na sociedade e incapacitando a escola para que nela sejam gestadas possibilidades para a inclusão.
Amaral (1998) propõe que

“ [...] pode-se pensar a anormalidade de forma inovadora: não mais e somente como patologia – seja individual ou social – mas como expressão da diversidade da natureza e da condição humana, seja qual for o critério utilizado.” (AMARAL, 1998, p.21)

De fato, a invisibilidade de educandos portadores de diferenças significativas ocorre no interior das instituições de ensino e várias são as motivações, dentre estas o desconhecimento das anormalidades, identificando-as em seguida como patologias e negando a diversidade da natureza, preconizada pela autora.
Um exemplo desta realidade é a vivência como professora de uma aluna com diferença significativa que ingressou no 2º Ano em 2017 sem o reconhecimento daquela pela instituição, acarretando sérios transtornos para que o atendimento específico fosse realizado. O transtorno é visível, não havendo dúvidas quanto à necessidade de elaboração de um plano de trabalho junto ao AEE, porém tardou o reconhecimento desta realidade, impactando sobre as relações da aluna com a turma.
Após muitas ocorrências, a Direção e a Coordenação Pedagógica fizeram algumas reuniões com a mãe e a psicóloga da educanda e destas foram feitas algumas combinações para que a investigação do caso pudesse ser avaliado por outros profissionais, porém a efetivação destas ações tardaram no que tange ao ano letivo, portanto houve perda de qualidade no atendimento e estresse para o restante dos alunos e alunas da turma.
Em decorrência disso, o estigma relativo à aluna foi se intensificando, apesar da intervenção realizada, porém esta carecia de conhecimento sobre o caso para que a abordagem fosse capaz de “incluir” este sujeito e esta é a realidade que percebo na instituição na qual atuo profissionalmente há quatro anos, não percebendo mudança no que concerne à Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva.

“ Bem mais complexos são o contexto e as relações humanas que se estabelecem a partir de uma dada característica que sinaliza para o “significativamente diferente”. (AMARAL, 1998, p.13)

terça-feira, 28 de novembro de 2017

                                 Memória e Experiência: historicidade

“Na contramão desta lógica, o sujeito da experiência é um arquipélago de subjetividades, um sujeito marcado pelas diferentes relações e posições que ocupa no mundo.” ( GENRO & CAREGNATO,                 , pg.9)






O objetivo deste relatório é demonstrar como foi desenvolvido o tema “Experiência”, sob a ótica proposta por Genro & Caregnato, em Educação na e para a diversidade: nexos necessários, capítulo I. As autoras afirmam que


”A experiência entendida, também, como memória é a nossa capacidade de restituir o passado, as suas marcas, para que possamos nos inserir num movimento de liberdade (historicidade), numa conduta significativa e seletiva que empenha a nossa responsabilidade social.” (GENRO & CAREGNATO,           , pg.8)



A turma na qual desenvolvi este trabalho está no 2º Ano do Ensino Fundamental, da qual sou professora titular. Os alunos e alunas tem idade média de 8 anos, no total são 19 estudantes e duas das alunas não estão alfabetizadas, portanto para o registro da atividade proposta, no caso delas, optei pelo registro através do desenho e da oralidade da atividade proposta, o restante registrou através da escrita.
O Ano referido faz parte do Ciclo de Alfabetização, portanto a exigência é que trabalhemos com repertório variado de diferentes gêneros textuais, dentre estes,  o trava-língua. Durante o desenvolvimento da apresentação e incentivo para que declamassem com atenção os diferentes textos apresentados a algaravia tomou conta da turma e o resultado foi excelente, pois demonstraram prazer e interesse pelo exercício.
Aproveitando o ânimo que atestava interesse em continuar a atividade, propus que fizessem uma pesquisa com familiares de outros textos do gênero trava-língua para que pudéssemos ter mais variações daquele.
Esta estratégia de pesquisa de diferentes assuntos com familiares é recorrente nos planejamentos diários, pois a memória capacita o indivíduo para que ele possa perceber-se parte de um grupo e deste adentrar outros espaços.
De acordo com Genro & Caregnato, “Larrosa (2002) considera este movimento como acontecimento que nos sensibiliza, nos marca e nos possibilita pensar nossas múltiplas relações.” (GENRO & CAREGNATO apud LARROSA,            ,pg. 9)
Ao retornar com os textos solicitados, os estudantes demonstraram alegria e disposição para a apresentação e a proposta para a mesma foi que sentássemos em uma roda, no chão, sobre colchonetes e cada um e cada uma deveria recitar de memória o trava-língua pesquisado. Alguns assim procederam, outros leram.
O relato que as crianças fizeram à respeito da recepção oferecida à demanda, por parte dos familiares foi riquíssimo, pois ao relembrarem dos textos solicitados (trava-línguas), as avós, avôs, mães e pais contaram histórias do tempo de escola e  memórias familiares.
A conclusão à respeito do trabalho desenvolvido é que os indivíduos se interessam por rememorar a partir do lúdico, como no caso relatado acima e que é possível encurtar o tempo a ponto de localizar no presente memórias do passado e estas serem o fio condutor para outros diálogos que estabelecem pertencimento.

Referência:
CAREGNATO. Célia Elizabete. GENRO. Maria Elly Herz.  Educação na e para a diversidade: nexos necessários. Cp. I Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2199291/mod_resource/content/1/Genro%20e%20Caregnato_%20Educac%CC%A7a%CC%83o%20na%20e%20para%20a%20diversidade.pdf Acesso: 17/11/2017



                                            Estudo e pesquisa: exigência docente        Ensejando a continuidade dos estudos e porvent...