Cenas do cotidiano
Indiscutivelmente
analisarmos cenas do cotidiano exige que elenquemos um ponto e deste olhemos
com isenção. Não há possibilidade fora deste movimento. Como fazer uma análise
se somos parte, quer dizer, atores? De outro ponto de vista, como analisar uma
cena na qual não conhecemos prerrogativas, subjetividades que são fundantes da
ação?
É
provável que ao analisarmos uma cena na qual sejamos parte, comecemos a
discorrer, analisar com o foco determinado e logo em seguida desviarmos da
análise, pois este exercício exige o afastamento da cena, porém ter sido
atuante no momento analisado, correremos o risco de sempre retornar à ação como
parte desta.
Igualmente
haverá dificuldade em analisarmos uma cena na qual não fomos parte, porque o
foco será a atuação do outro. Neste caso, o obstáculo à análise exigida está no
fato de que o analisado tem suas prerrogativas ao executar determinadas escolhas
e como expectadores não conhecemos a subjetividade que molda a ação.
De
acordo com a solicitação, elenquei uma cena na qual propus aos estudantes que
após a cópia e leitura atenciosa de atividades de revisão, as executassem sem
solicitar auxílio. A turma está no último ano do Ciclo de Alfabetização,
portanto, lendo e interpretando já com alguma autonomia. Fui surpreendida pelo questionamento
feito sobre o que era sublinhar e circular. As atividades propostas versavam
sobre Alfabetização. Rapidamente decidi
pedir atenção do coletivo e foquei nos significados das palavras, recorri ao
dicionário, pois este suporte foi inserido desde o começo do ano letivo, para
que eles se apropriassem daquele como ferramenta de apoio diário.
Com
o propósito de sanar as dúvidas, li e realizei uma atividade de cada ação
exigida e nos dias subsequentes trabalhei mais verbos que farão parte do
universo cotidiano na resolução de atividades das diversas áreas.
Da
mesma forma escolhi uma cena na qual a colega do 1º Ano propôs aos estudantes
uma atividade para desenvolver a lateralidade. A professora em questão amarrou
alternadamente, no braço direito e esquerdo, uma fita e com esta estratégia
solicitava que os pequenos levantassem a mão X ou Y. Observando a cena, percebi
o quanto é difícil para a criança reconhecer “lado” no início da escolaridade,
que é aos seis anos. Após esta
observação comecei a observar meus alunos, já no final do Ciclo e constatei que
alguns ainda estão com a lateralidade e noção de direção pouco desenvolvida.
A
fim de proporcionar atividades variadas para que os alunos desenvolvam
autonomia no que se refere ao observado, provoquei o diálogo entre meus pares
do Ciclo de Alfabetização e também pesquisei para embasar meu planejamento
posterior.
Além
disso, neste semestre, teremos a oportunidade de conhecer teóricos nas aulas de
Ludicidade, que se debruçaram sobre os jogos como uma ferramenta para
desenvolver na criança a condição de conhecer o seu corpo e o corpo no meio
físico.
Assim
sendo, concluo esta análise com as palavras da Mestra Esther Pillar Grossi, que
nos desafia a que sejamos humildes no sentido de que precisamos da pesquisa já
elaborada e daquela que também podemos elaborar a partir da realidade que nosso
ofício exige. Diz a professora que “a renovação é uma característica de nossa época.
O progresso científico revoluciona nosso século e se não acompanharmos seremos
cedo marginalizados.” (GROSSI, 2006, p.3)