quinta-feira, 7 de junho de 2018


                                                     Uma opção: Projeto

Trabalhar com projetos em sala de aula é inspirador. Tenho desenvolvido projetos de curta duração com as turmas que trabalhei desde que reingressei no serviço público como professora, isso há quatro anos.

No início de maneira discreta, pois a escola na qual retomei minha jornada tem proposta de ensino tradicional e como estava iniciando precisava me inserir no grupo. Com o passar do tempo foi possível tornar robusto meu planejamento.

Sigo planejando os projetos sempre respeitando o interesse das crianças, ou seja, procurando os temas geradores para que seja viável envolvê-los nas atividades.

Tenho como princípio utilizar a literatura para instigá-los, pois penso que o emocional e o prático são aliados sempre que uma história é bem recebida.

Por exemplo, no momento estamos desenvolvendo/desbravando o tema lixo e todas as suas nuances, quais sejam, a limpeza da sala de aula, pátio da escola, tonéis diferentes para descarte dos resíduos, coleta e separação de recipientes oriundos dos lares dos estudantes, os recursos hídricos poluídos com o manejo incorreto do lixo, morte dos animais por ingestão do lixo e outros assuntos que vão surgindo.

De acordo com Hara, 1992[i], "o ato de escrever é indissociável da função expressiva e comunicativa da escrita e, portanto, das coisas do mundo, do que há para expressar e comunicar vida."

É evidente que ao trabalharmos como mediadores entre os educandos e o conhecimento, temos de ter em vista que a escrita deve expressar aquilo que aqueles percebem, sentem, elaboram, portanto o projeto como estratégia tem o vigor necessário para conduzir as atividades de maneira que a motivação sobre os assuntos seja constante.

Referência:

HARA. Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio. 3.ed. São Paulo: CEDI, 1992. Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2431939/mod_resource/content/0/Alfabetizacao_de_adultos__Regina_Hara.pdf Acesso em: 07/06/2018


[i] https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2431939/mod_resource/content/0/Alfabetizacao_de_adultos__Regina_Hara.pdf

terça-feira, 5 de junho de 2018


Mediando a palavra mundo

“[...] Dá o dedo aí [...]” é parte do relato realizado por um adulto não escolarizado sobre uma situação constrangedora vivenciada pelo mesmo por não saber “assinar corretamente[i]”.
Essa situação e tantas outras são parte do cotidiano de milhares de jovens e adultos que tiveram suas trajetórias alteradas pelas condições social e/ou econômica, portanto casos que necessitam diferentes abordagens para que aqueles possam participar, de maneira plena e cidadã, do mundo construído por gerações de homens e mulheres.
As estratégias, os recursos, as metodologias devem ser capazes de atender as demandas destes grupos que trazem experiências das diversas interações, seja no trabalho formal/informal, constituição de família e outras.
Regina Hara nos convida para uma reflexão sobre sujeitos não alfabetizados e suas relações com a construção do conhecimento, a partir das concepções de Paulo Freire sobre aprendizagem e processo pedagógico e das contribuições de Emília Ferreiro e Ana Teborosky que tratam da construção do conhecimento e da escrita, para tanto apresenta um relato de caso que, de acordo com a autora,

é produto de um ano letivo, onde se procurou ligar o embasamento teórico que construímos com as possibilidades reais de sala de aula, onde pudéssemos ter controle do desenrolar da experiência.(HARA, 1992, p.18)


A proposta implementada foi estruturada a partir da constatação de que alguns indivíduos não se apropriavam da escrita, daquela que os tornaria sujeitos de criação. O ponto de partida foi o pensamento comungado por Paulo Freire, Emília Ferreiro e Ana Teborosky de que o homem é sujeito cognoscente e construtor de seu conhecimento (1992, p.4)
O levantamento realizado para compreender como os indivíduos participantes da classe escreviam, demonstrou que a escrita daqueles se equiparavam aos estágios identificados em crianças, portanto o embasamento nas teorias desenvolvidas por Ferreiro e Teborosky contemplaram o planejamento.
Muito interessante refletir junto à autora sobre o caso, pois de imediato me recordo das diferentes Hipóteses da escrita que encontro enquanto docente. Tem sido desafiante desenvolver estratégias para atender tão díspares solicitações e necessidades geradas pelas crianças e o quanto é gratificante perceber que a evolução de uma hipótese à outra é resultante das intervenções realizadas em colaboração ao esforço das/os estudantes para progredir e se expressar através da escrita.
Conforme Hara,

Dominar o código escrito não é o resultado mecânico de treinamentos de habilidades e coordenações. Entender a escrita como um sistema de representações que se construiu socialmente na história do homem e saber que seu domínio é um processo cognitivo,  nos obriga a pensar esse objeto quando nos dispomos a atuar como alfabetizadores. A pensá-lo não apenas como usuários, mas compreendendo sua estrutura e o alcance de sua função social. (HARA, 1992, p.8)

Enquanto alfabetizadores, somos os mediadores das relações estabelecidas entre os indivíduos e o código escrito, capacitando este para ser um suporte de interação com o Outro e no mundo.
Enfim, estar atento à leitura de mundo dos alfabetizandos é imprescindível para aquelas/es educadoras/es que compreendem que, segundo Freire

a palavra para Paulo estava sempre irremediavelmente imbricada, vinculada ao ato de escrever, ao sujeito que lê/escreve; ao que se passa ou se passou no mundo concreto, como o vemos e interpretamos diante da ideologia que temos e praticamos. (FREIRE, 2015, p.292)




Referências:
FREIRE. Ana Maria Araújo. A leitura do mundo e a leitura da palavra em Paulo Freire. Cad. Cedes, Campinas, v. 35, n. 96, p. 291-298, maio-ago., 2015 Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v35n96/1678-7110-ccedes-35-96-00291.pdf Acesso em: 06/06/2018
HARA, Regina. Alfabetização de adultos: ainda um desafio. 3. ed. São Paulo: CEDI, 1992 Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2431939/mod_resource/content/0/Alfabetizacao_de_adultos__Regina_Hara.pdf Acesso em: 05/06/2018
____ibid., p.4
____ibid., p.8





[i] https://www.youtube.com/watch?v=FFNxaPxsV0U&feature=youtu.be

                                            Estudo e pesquisa: exigência docente        Ensejando a continuidade dos estudos e porvent...