Estamos sendo com os outros?
“Por isso é que, na formação permanente dos
professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem
de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática.” (FREIRE,
2004, pg.39)
Pensar criticamente
a prática exige fundamentação teórica, pois para entender sobre a prática mesma
é necessário conhecer o passado e o arcabouço atual sobre o qual está assentado
o conhecimento epistemológico. A prática e o discurso calcados no conhecimento
serão os alicerces para novas teorias resultantes da práxis.
Assim como pesquisa,
discussão, formulações sobre a prática, também palestras proferidas por
pensadores que se debruçam sobre temas diversos contribuem para que formulemos
teses e estratégias.
Como exemplo cito a
conferência proferida pelo professor emérito da UFMG Carlos Roberto Jamil Cury
no dia 17 de abril do corrente ano, aquela pronunciada na Aula Inaugural da
Faculdade de Educação/UFRGS (FACED[i]). A
conferência versou sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
9334/96-LDB), sua história,
impasses e perspectivas.
Sobre a história da educação sob a ótica da LDB, o professor
ressalta uma mudança substancial nesta, ocorrida no ano de 1967 sob o regime
militar, qual seja, a alteração ocorrida na obrigatoriedade e no financiamento.
“Há uma extensão da obrigatoriedade de quatro para oito anos e cai o financiamento.
[...] Para fazer uma extensão da obrigatoriedade você precisa ter mais escolas.
De onde saiu o dinheiro para construir as escolas se não tinha o financiamento?
Do arrocho dos salários dos professores. É aí que começa o declínio do valor do
salário dos professores.” (Cury, 2017)
É inegável a depauperação da categoria que abarca os
profissionais da educação, em especial aqueles que lecionam na Educação Básica,
em particular os que pertencem à rede pública, com parcas exceções.
Em decorrência deste empobrecimento a maioria dos docentes
recorre a estratégias para viver com dignidade, quais sejam, lecionar em três
turnos ou trabalhar em outra área. Consequentemente, a formação permanente fica
em segundo plano ou muitas vezes nem faz parte do cotidiano do professor e o resultado
imediato é a dissociação entre prática e teoria.
Diante desta realidade urge pensar sobre a práxis, esta que
baliza o devir humano, pois é dela resultante teorias, inovações, interações e
outros.
De acordo com Trevisan apud Vaz (2006, pg.31), a práxis
“é a realização do homem no seu mundo humano e
é pois, no seu conceito abrangente, essencialmente política, isto é, orientada
necessariamente para o movimento da
auto-realização para o horizonte do ser-com-os-outros”.
Estamos sendo com os outros?
Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia; saberes necessários à
prática educativa. Paz e terra. São Paulo. 2004.
TREVISAN, Amarildo Luiz. Paradigmas da Filosofia e Teorias
Educacionais: novas perspectivas a partir do conceito de cultura.Educação e Realidade.
V.31 n.1. jan/jun2006.