quarta-feira, 19 de abril de 2017

                                                                   
                                                                  Estamos sendo com os outros?


 “Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a próxima prática. O próprio discurso teórico, necessário à reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se confunda com a prática.” (FREIRE, 2004, pg.39)
Pensar criticamente a prática exige fundamentação teórica, pois para entender sobre a prática mesma é necessário conhecer o passado e o arcabouço atual sobre o qual está assentado o conhecimento epistemológico. A prática e o discurso calcados no conhecimento serão os alicerces para novas teorias resultantes da práxis.
Assim como pesquisa, discussão, formulações sobre a prática, também palestras proferidas por pensadores que se debruçam sobre temas diversos contribuem para que formulemos teses e estratégias.
Como exemplo cito a conferência proferida pelo professor emérito da UFMG Carlos Roberto Jamil Cury no dia 17 de abril do corrente ano, aquela pronunciada na Aula Inaugural da Faculdade de Educação/UFRGS (FACED[i]). A conferência versou sobre a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9334/96-LDB), sua história, impasses e perspectivas.
Sobre a história da educação sob a ótica da LDB, o professor ressalta uma mudança substancial nesta, ocorrida no ano de 1967 sob o regime militar, qual seja, a alteração ocorrida na obrigatoriedade e no financiamento. “Há uma extensão da obrigatoriedade de quatro para oito anos e cai o financiamento. [...] Para fazer uma extensão da obrigatoriedade você precisa ter mais escolas. De onde saiu o dinheiro para construir as escolas se não tinha o financiamento? Do arrocho dos salários dos professores. É aí que começa o declínio do valor do salário dos professores.” (Cury, 2017)
É inegável a depauperação da categoria que abarca os profissionais da educação, em especial aqueles que lecionam na Educação Básica, em particular os que pertencem à rede pública, com parcas exceções.
Em decorrência deste empobrecimento a maioria dos docentes recorre a estratégias para viver com dignidade, quais sejam, lecionar em três turnos ou trabalhar em outra área. Consequentemente, a formação permanente fica em segundo plano ou muitas vezes nem faz parte do cotidiano do professor e o resultado imediato é a dissociação entre prática e teoria.
Diante desta realidade urge pensar sobre a práxis, esta que baliza o devir humano, pois é dela resultante teorias, inovações, interações e outros.
De acordo com Trevisan apud Vaz (2006, pg.31), a práxis
“é a realização do homem no seu mundo humano e é pois, no seu conceito abrangente, essencialmente política, isto é, orientada necessariamente  para o movimento da auto-realização para o horizonte do ser-com-os-outros”.
Estamos sendo com os outros?

Referências:
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia; saberes necessários à prática educativa. Paz e terra. São Paulo. 2004.
TREVISAN, Amarildo Luiz. Paradigmas da Filosofia e Teorias Educacionais: novas perspectivas a partir do conceito de cultura.Educação e Realidade. V.31 n.1. jan/jun2006.

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