sexta-feira, 7 de dezembro de 2018


                     

                        Interação e Aprendizagem

Como os seres humanos produzem as suas próprias condições de existência a partir da corporeidade?
Através do corpo os sujeitos interagem no mundo e das experimentações registradas a partir dos sentidos em direção ao sistema nervoso central, “confirmará ou induzirá a formação de conexões nervosas e, portanto, a aprendizagem ou o aparecimento de novos comportamentos que delas decorrem.” (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 34)
Portanto, a produção de condições de existência tem como fundamento tudo que nos sensibiliza, as interações com o ambiente e com o Outro.

Referência:
COSENZA. Ramon M, GUERRA. Leonor B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende; Um universo em mutação. Porto Alegre: Artmed, 2011



        


     CORPOREIDADE NA SOCIEDADE MODERNA E PÓS MODERNA

 “As neurociências são ciências naturais que estudam princípios que descrevem a estrutura e o funcionamento neurais, buscando a compreensão dos fenômenos observados. A educação tem outra natureza e finalidades, como a criação de condições para o desenvolvimento de competências pelo aprendiz em um contexto particular. Ela não é regulada apenas por leis físicas ou biológicas, mas também por aspectos humanos que incluem, entre outras, a sala de aula, a dinâmica do ensino-aprendizagem, a família, a comunidade e as políticas públicas.
Descobertas em neurociências não autorizam a aplicação direta e imediata no contexto escolar, pois é preciso lembrar que o conhecimento neurocientífico contribui com apenas parte do contexto em que ocorre a aprendizagem.  Embora ele seja muito importante, é mais um fator em uma conjuntura cultural bem mais ampla.” (COSENZA; GUERRA, 2011, p.143)

O desenvolvimento das potencialidades humanas deriva de vários fatores, como os citados no excerto acima e toda e qualquer atividade humana irá incidir sobre a percepção corporal e esta impulsiona as ligações  entre neurônios. As limitações momentâneas diante das exigências, solicitações advindas da escolha dos métodos, materiais, disposição do mobiliário, oferta de diversas estratégias terão papel fundamental para que o indivíduo possa construir possibilidades de estar com/no e, ao elaborar estratégias para compreender, realizar, inferir, junto aos pares e ao professor estará oportunizando ao sistema nervoso uma série de “fazer e desfazer ligações entre os neurônios como consequência das interações constantes com o ambiente externo e interno” (COSENZA; GUERRA, 2011, p. 36)




Referências:
COSENZA. Ramon M, GUERRA. Leonor B. Neurociência e educação: como o cérebro aprende; O diálogo desejável. Porto Alegre: Artmed, 2011
ibid., p. 36



                                                                        


                                           Aprender: criação e reinvenção                            


“Os alunos têm que vivenciar o conhecimento, têm que saboreá-lo, em experiências prazerosas, associando-o a sua vida, a sua realidade. É preciso que o processo os afete de alguma maneira, no sentido de tocar-lhes os afetos, de sensibilizá-los para este tipo de conhecimento e da importância de se deleitar com a busca da compreensão do mundo e de sistematização dessa produção.” (BAPTISTA,      , pg. 5)

As indicações para a troca de impressões e aprendizados foram generosas. Foram oferecidos, através do filme Gênio Indomável [i]e da leitura de Emoção e Ternura: A Arte de Ensinar[ii], subsídios potentes para discorrermos sobre a proposta do Fórum Emoção e Corporeidade[iii].
Dentre aqueles destaco a palavra poiese, defendida por Baptista

“...outro conceito é crucial, como pressuposto, para o trabalho que realizo e que proponho: o de autopoiese. O elemento complementar ‘poiese’ vem do grego e significa criação.”(BAPTISTA,       pg.8)

Enquanto professora enfrento o desafio cotidiano de proporcionar aos alunos espaços para que aqueles percebam-se parte do processo ensino-aprendizagem, através do interesse despertado pelas interações forjadas a partir da afetividade, do respeito e da contínua observação de como os alunos acompanham as provocações.
 A afetividade e o respeito são “alinhavos” indispensáveis para a construção do conhecimento enquanto seres coletivos, ou seja, para a criação (poiese) de espaços internos para a assimilação, posteriormente a acomodação e a resultante adaptação. Este movimento desestabiliza o sujeito e o afeto o capacita a investir na equilibração, que de acordo com Wazlawick[iv]

“... Piaget procura apresentar o processo de aquisição de novos conhecimentos como um processo de equilibração cognitiva que, de certa forma, obriga os seres vivos a assimilar as informações vindas do mundo externo acomodando-as em estruturas mentais que são forjadas justamente para refletir este mundo.”

Outro subsídio importante para refletir sobre afetividade enquanto ferramenta humana essencial para a criação foi a indicação da película acima citada, a qual apresenta um jovem com habilidade acima da média para desenvolver estudos avançados na área da Matemática Aplicada, contudo um sujeito com necessidades de interação e subsistência como qualquer jovem da sua idade, porém o professor que o reconhece como um indivíduo com altas habilidades em uma área, não o percebe como uma pessoa repleta de contradições e que busca satisfazê-las com os elementos que o forjaram.
Conforme Baptista,          , pg.7

“O acionamento do desejo implica, então, em construir a partir do mundo dos alunos. Mundo das linhas de fuga do território, das linhas de simulação e das linhas de retorno ao território. Linhas de fuga, aqui, representam não o abandono, mas a busca de reinvenção.”

Uma vez que o professor não acolheu “o mundo do aluno”, tornou-se impossível o jovem adentrar o universo oferecido por aquele, qual seja, um mundo ofertado pela Academia e Centros de Pesquisa que não ofereciam espaço para a enação que “resulta do movimento de aprendizagem que se produz através de uma emoção visceral. Sentimos com as tripas, enquanto reinventamos o próprio conhecimento.” (BAPTISTA,           , pg.9)
Assim como no filme, há alunos que chegam à escola com habilidades desenvolvidas em uma área e em outras precisam ser provocados para desenvolverem, mas antes disso é necessário convidá-los a quererem estar juntos, estarem no ambiente escolar e isso requer amorosidade e responsabilidade para com os sentimentos/emoções que compõe cada sujeito.


REFERÊNCIAS:
WAZLAWICK. Raul Sidnei. Agentes Autônomos e Teoria da Equilibração Cognitiva. Disponível em: http://www.labiutil.inf.ufsc.br/wazlawick0.html Acesso em: 03/11/18


  


                      

                  O Outro e o que espero do mundo

É encantador observar a turma em movimento. Proponho muitos jogos, encenações, produção de textos (adoram rimas) e em todas as situações nas quais os sujeitos estão envolvidos nas elaborações e apresentações dos resultados, há percalços no que tange ao espaço ocupado, às regras estabelecidas, trocas de pares/grupos e, dos movimentos gerados a partir destas situações convido-os, primeiramente o grupo em questão e se for o caso todo o grupo,  para sentarmos sobre nosso tapete de “grandes papos”(assim denominado por eles)no qual todos podem enxergar-se e ouvir com atenção e respeito.
O Outro exerce sobre o Eu um encantamento ou estranhamento, e partindo destas iniciamos a conversa, cuidando para que todos possam expressar o que sentiram/perceberam, pois é do conjunto dos discursos que haverá uma aceitação da cena como verdadeira e desta uma modificação no comportamento.
Cabe relatar nesta oportunidade o caso da aluna à qual fiz menção no Fórum 4. A mesma tem dificuldade em ouvir, falar e interagir fisicamente com os colegas e também comigo. Demonstra distanciamento, inclusive não conseguindo brincar com os colegas em nenhuma oportunidade, a não ser quando pode, enquanto joga/brinca, contar sobre algo que está “fora dela”, ou seja, fatos que acontecerão, coisas não vividas.
De acordo com GONÇALVES (           , p.34) apud CYRULNIK ( 1997, p. 23)

“Aquele que contém os significados mais cativantes é um outro da mesma espécie. A proximidade dos congêneres cria um mundo sensorial partilhável. O outro contém em si o que mais espero. Se estivesse sozinho no mundo ele estaria vazio, mas assim que dou conta de um congênere perto de mim, portador de informações que “me falam”, o meu habitat enche-se de gritos, de cores e de posturas que criam um ambiente rico em significados enfeitiçadores, em acontecimentos extraordinários. A simples presença de um “próximo análogo” geneticamente vizinho, alarga o mundo sensorial e cria um acontecimento perceptual, um convite ao encontro.”

Enfim, o que esperamos está no Outro, porém quando não identificamos esse sujeito como igual, podemos nos perpetuar em um vazio, este lugar onde nada é criado ou reinventado, portanto sem poiese e/ou enação.[i]

REFERÊNCIAS:
GONÇALVES. Clézio. CORPOREIDADE HUMANA – UMA COMPLEXA TRAMA TRANSDISCIPLINAR  Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2603902/mod_resource/content/3/Corporeidade%20-%20Uma%20complexa%20trama%20transdisciplinar.pdfAcesso em: 04/11/2018




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