Outros Territórios
“
[...] diversos Territórios Negros Urbanos vêm sendo conquistados e mantidos no
contexto sócio-cultural dos espaços sociais da metrópole porto-alegrense ou,
então, desaparecendo por razões históricas, urbanas ou políticas. Ao mesmo
tempo, os segmentos negros os fazem ressurgir em outros lugares e espaços
sociais, atualizando antigos significados ou, produzindo, socialmente, novos
significados. “ (Junior, 2017, p. 56)
Sem
dúvida alguma, a ação humana sobre o espaço físico derivará da resistência, da
criatividade e da necessidade e as resultantes daquela ficarão gravadas no meio
ambiente, produzindo territórios significativos, no caso em questão, os
Territórios Negros Urbanos.
São
Territórios Negros Urbanos em Porto Alegre somente aqueles inventariados no Museu
de Percurso do Negro em Porto Alegre ou existem outros
que carregam os significados produzidos por homens e mulheres que resistem e
insistem?
É
inegável que não se limita aos gravados no inventário citado, pois “uma cultura
supõe a existência de um grupo que a crie lentamente, a viva e a comunique
[...] “ (Munanga, 2012, p. 29), portanto se a cultura é construção no tempo e é
vigorosa, exige a presença constante de novos atores que possam imprimir
inquietações e soluções que respondam aos desafios constantes gerados pelas
disputas inerentes às alteridades. Conforme (Arena; Lopes,2013, p. 1.158 apud
Bakhtin, 2003, p.341)
“
[...] o homem não tem um território interior soberano, está todo e sempre na
fronteira; olhando para dentro de si ele olha nos olhos ou com os olhos do
outro “.
Destas
trocas constantes surgem grupos, consolidam-se espaços sociais que sustentam e
impulsionam o devir numa constante (re) criação dos Territórios Negros,
especialmente em Porto Alegre que é o lócus em questão.
Para
exemplificar, há o grupo de teatro Pretagô[i]
que surgiu a partir de uma proposição de estágio de Camila Falcão, então
estudante do curso de Artes Dramáticas da UFRGS e este trabalho rendeu uma
primeira montagem para sala de teatro, qual seja, “Qual
a diferença entre charme e funk?” em 2014 e no ano
seguinte a peça AfroME,
desenvolvida para ser apresentada em um ambiente alternativo, qual seja, um bar.
Estes dois trabalhos foram idealizados e apresentados pela estudante, pelas
atrizes Kyky Rodrigues, Laura Lima, Manuela Miranda e Silvana Rodrigues, pelos
atores Bruno Cardoso e Bruno Fernandes, os músicos João Pedro Cé, Duda Cunha e
Vini Silva, a figurinista e produtora Mari Falcão e o diretor Thiago Pirajira.
As
inquietações que moveram o grupo na direção que perseguem até então, foram como
a juventude negra percebe o espaço social que habita e frui, a inexistência de
peças teatrais nas quais as atrizes e atores sejam negras e negros, os papéis
impostos aos sujeitos negros nas relações sociais, exclusão e remoção da
população negra desde que a cidade iniciou o processo de expansão, ou seja,
temáticas caras aos afro-brasileiros que são cidadãos de direito e de fato.
Retratando
a época na qual estão imersos, atrizes e atores revivificam a cultura trazida
de África de forma dramática, tal e qual o foi para aquelas e aqueles que
atravessaram o Oceano de maneira imposta.
Pretagô.
Todas e todos, mulheres e homens, territórios forjados desde sempre na luta
pela dignidade usurpada e pela esperança em ser um com o outro.
Referências:
ARENA. Dagoberto
Buim; LOPES. Naiane Rufino. PNBE 2010: personagens
negros como protagonistas. Educação e& Realidade, Porto Alegre, v.38,
n. 4, p. 1147-1173, out/dez. 2013.
JUNIOR. Iosvaldyr
Carvalho Bittencourt. Territorialidade
Negra Urbana: a evocação da presença, da resistência cultural, política e da
memória dos negros, em Porto Alegre, delimitando espaços sociais
contemporâneos. Apostila do curso de Formação: Territórios Negros:
patrimônios afro-brasileiros em porto Alegre. 3ª edição. 2017.
MUNANGA. Kabengele.
Sociedades, civilizações e culturas africanas.
Origens africanas do brasil contemporâneo: histórias, línguas, culturas e
civilizações. 3ª edição. São Paulo: Gaudí Editorial, 2012.