sábado, 14 de outubro de 2017

                                Pluralidade na escola: desafio a ser superado

No ano de 2015, lecionava para uma turma de 3º Ano do Ensino Fundamental e dentre os alunos havia três alunos negros e destes somente um conseguia se posicionar diante dos colegas, através de opiniões e brincadeiras.
Em decorrência desta situação, iniciei um trabalho afirmativo através da música brasileira consolidada e de matriz afrodescendente e das histórias infantis que traziam personagens etnicamente marcados pela ascendência africana.
Deste trabalho em diante comecei a notar que os três alunos, uma menina e dois meninos, iniciaram o processo de construção do espaço junto aos colegas através de histórias vivenciadas nas suas famílias e comunidades, como por exemplo, contando que participavam de um grupo de crianças na comunidade e nela havia o resgate das raízes, relatando que a mãe cantava em uma escola de samba e que o mesmo acompanhava tocando chocalho e instrumento de percussão.
Percebendo a riqueza cultural destas manifestações e o quanto as mesmas impactavam na formação daqueles alunos, solicitei à Diretora que incluísse um espaço para que o grupo de crianças da comunidade viesse até a escola, junto à Griô[i] que os acompanhava, para que apresentassem alguma atividade que desenvolviam e a resposta foi que não havia espaço na festa referida para este tipo de manifestação.
Fiquei impactada, pois a festa de São João é a festa brasileira que acolhe as manifestações populares de todas as culturas.
Porém, naquele momento não havia na instituição arcabouço para seguir pleiteando a inclusão daquela atividade representante da cultura afro-brasileira na festividade.
Do mesmo modo as instituições de ensino agiram ao longo das décadas, pois a formação cultural ocidental carrega as marcas do etnocentrismo, que em última instância preconiza a supremacia de um grupo étnico, nação ou nacionalidade em detrimento de contribuições irrefutáveis na formação de um povo.

De acordo com Missio & Cunha apud Pérez Gómes (2001)
É fácil reconhecer como a escola, filha privilegiada do Iluminismo moderno, exerceu e continua exercendo um poderoso influxo etnocêntrico. A escola está reforçando de maneira persistente a tendência etnocêntrica dos processos de socialização, tanto na delimitação dos conteúdos e valores do currículo que refletem a história da ciência e da cultura da própria comunidade como na maneira de interpretá-los como resultados acabados, assim como na forma unilateral e teórica de transmiti-los e no modo repetitivo e mecânico de exigir aprendizagem. (Pérez Gómez, 2001, p. 35)

Portanto, a formação de alunas e alunos nas instituições escolares carece de pluralidade cultural e de espaços multiculturais capazes de abarcar as diferentes contribuições trazidas e assimiladas pelos descendentes dos povos que formaram a nação brasileira.

Referências:







[i] http://www.processocom.org/2016/06/01/a-importancia-de-grios-na-socializacao-de-saberes-e-de-fazeres-da-cultura/

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