Pluralidade na escola: desafio a ser superado
No ano de 2015, lecionava para uma turma
de 3º Ano do Ensino Fundamental e dentre os alunos havia três alunos negros e destes
somente um conseguia se posicionar diante dos colegas, através de opiniões e
brincadeiras.
Em decorrência desta situação, iniciei
um trabalho afirmativo através da música brasileira consolidada e de matriz
afrodescendente e das histórias infantis que traziam personagens etnicamente
marcados pela ascendência africana.
Deste trabalho em diante comecei a notar
que os três alunos, uma menina e dois meninos, iniciaram o processo de construção
do espaço junto aos colegas através de histórias vivenciadas nas suas famílias
e comunidades, como por exemplo, contando que participavam de um grupo de
crianças na comunidade e nela havia o resgate das raízes, relatando que a mãe
cantava em uma escola de samba e que o mesmo acompanhava tocando chocalho e instrumento
de percussão.
Percebendo a riqueza cultural destas manifestações
e o quanto as mesmas impactavam na formação daqueles alunos, solicitei à
Diretora que incluísse um espaço para que o grupo de crianças da comunidade
viesse até a escola, junto à Griô[i]
que os acompanhava, para que apresentassem alguma atividade que desenvolviam e
a resposta foi que não havia espaço na festa referida para este tipo de manifestação.
Fiquei impactada, pois a festa de São
João é a festa brasileira que acolhe as manifestações populares de todas as
culturas.
Porém, naquele momento não havia na instituição
arcabouço para seguir pleiteando a inclusão daquela atividade representante da
cultura afro-brasileira na festividade.
Do mesmo modo as instituições de ensino
agiram ao longo das décadas, pois a formação cultural ocidental carrega as
marcas do etnocentrismo, que em última instância preconiza a supremacia de um
grupo étnico, nação ou nacionalidade em detrimento de contribuições
irrefutáveis na formação de um povo.
De acordo com Missio & Cunha apud Pérez Gómes (2001)
É fácil reconhecer
como a escola, filha privilegiada do Iluminismo moderno, exerceu e continua
exercendo um poderoso influxo etnocêntrico. A escola está reforçando de maneira
persistente a tendência etnocêntrica dos processos de socialização, tanto na
delimitação dos conteúdos e valores do currículo que refletem a história da
ciência e da cultura da própria comunidade como na maneira de interpretá-los
como resultados acabados, assim como na forma unilateral e teórica de
transmiti-los e no modo repetitivo e mecânico de exigir aprendizagem. (Pérez
Gómez, 2001, p. 35)
Portanto, a formação de alunas e alunos
nas instituições escolares carece de pluralidade cultural e de espaços
multiculturais capazes de abarcar as diferentes contribuições trazidas e assimiladas
pelos descendentes dos povos que formaram a nação brasileira.
Referências:
CUNHA et al. Um olhar sobre a Educação no século XXI.
Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2072607/mod_resource/content/1/Um%20olhar%20sobre%20a%20educa%C3%A7%C3%A3o%20moderna%20no%20s%C3%A9culo%20XXI.pdf
Acesso: 14/10/2017
[i] http://www.processocom.org/2016/06/01/a-importancia-de-grios-na-socializacao-de-saberes-e-de-fazeres-da-cultura/
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