segunda-feira, 16 de novembro de 2015





                                                           Eu e o Outro


Um ser "desejante de saber", segundo Sigmund Freud, é toda pessoa que pergunta para situar-se e entender o mundo e dele participar/desfrutar. Esta "entrada" no mundo acontece a partir das relações familiares, mais precisamente com os primeiros cuidadores e estes serão as referências tanto positivas quanto negativas em todas as interações futuras. Ser no mundo exige ser para alguém primeiro. Eu e o outro. Esta será sempre a tensão que provocará a busca pelo conhecimento do mundo e no mundo.

Enquanto vai se constituindo, a criança experimenta, testa as reações dos adultos espelhadas na reação já vivenciada com os primeiros modelos e este exercício constante fornecerá sinais, pistas de como deve reagir/agir diante de situações cotidianas. Este movimento tanto reafirmará convicções, quanto colocará em dúvida comportamentos resultantes. Estas interações foram denominadas por Freud como transferência. O adulto será o meio pelo qual a criança fará seu “laboratório” para sua s futuras andanças. Segundo Freud (1901) transferências “são reedições dos impulsos e fantasias despertadas e tornadas conscientes durante o desenvolvimento da análise e que trazem como característica a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do médico.”

O adulto será desafiado enquanto o ser com o qual a criança fará suas “experimentações” para ser no mundo. Ora, se para ser alguém a criança necessita de “algo” para exercitar o quanto/como a humanidade lhe é possível, então ele o adulto, precisará deixar de lado, não abandonar, mas permitir que a criança seja, enquanto “não sou” para que ela vivencie a partir daquilo que somos enquanto pessoas que já entendem as dinâmicas relacionais. Para este movimento foi cunhado o termo contra referência.

               Contranarciso                                         
em mim eu vejo o outro e outro e outro enfim dezenas trens passando vagões cheios de gente
centenas o outro que há em mim é você você e você assim como eu estou em você eu estou nele em nós e só quando estamos em nós estamos em paz mesmo que estejamos a sós 

Paulo Leminski, 1983



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