Crianças e seu ofício.
Ler e
escrever num mundo em transformação, texto extraído do livro Passado e Presente dos Verbos Ler e
Escrever (Cortez Editora, 2005, 92 páginas) da pesquisadora Emília Ferreiro
traz um apanhado de suas ideias sobre o ato de aprender a ler e escrever no
decurso da história humana no que concerne aos impactos sobre o aprendizado nas
gerações que se sucedem. Segundo a autora “essas
crianças (todas as crianças) não precisam ser motivadas para aprender. Aprender
é seu ofício.”
Ao contextualizar o ato de ler e escrever
enquanto profissão, no qual “os que escreviam não eram leitores autorizados, e
os leitores autorizados não eram escribas” (FERREIRO, pg.12) e para tanto estes
profissionais passavam por um treinamento rigoroso a autora convoca o
ouvinte/leitor a acompanhá-la na reflexão acerca dos problemas gerados a partir
da democratização da leitura e da
escrita. Conforme a autora, “todos os
problemas da alfabetização começaram quando se decidiu que escrever não era uma
profissão, mas uma obrigação, e que ler não era marca de sabedoria, mas de
cidadania.”
De acordo com Emília Ferreiro ler e escrever
são construções sociais. A escola pública foi criada para dar conta destas
construções no que se refere à cidadania baseada na alfabetização. Ao fim e ao
cabo, a função prevista para a escola não se efetivou, pois “continua a ensinar uma técnica, (FERREIRO,
pg.13) em detrimento do ensino no qual o aluno é chamado a construir o seu
conhecimento a partir de suas experiências.” Como se não bastasse, o
fracasso escolar surge como explicação para a total desarticulação entre o
ensino/aprendizagem. Primeiramente o aluno é o ator responsável pelo fracasso e
na sequência a família/contexto social. No que se refere ao contexto social,
infere-se que o analfabetismo resulta da pobreza. Sobre isso a autora diz: “apesar de centenas de promissoras
declarações de compromisso nacional e internacional, a humanidade ingressa no
século XXI com um bilhão de analfabetos no mundo (enquanto em 1980 eram 800
milhões)”.
Além do analfabetismo, agora estamos às
voltas com o iletrismo, termo cunhado nos países ricos para definir a ausência
da prática de leitura cotidiana resultado da inexistência do prazer em ler. “E isso é grave: se a escola não alfabetiza
para a vida e o trabalho... para que e para quem alfabetiza?” (FERREIRO,
pg. 17)
A autora defende a ideia de que é necessário
empreender esforços para aumentar o número de leitores plenos para que estes
sejam cidadãos exigidos pela democracia e também pelo advento da internet que
no seu bojo desafia o usuário a escolher informações.
Qualificar as novas tecnologias como
“democráticas” é reduzir o papel da democratização do acesso às mesmas.
Conforme a autora, nem mesmo o alfabeto é democrático em si mesmo. Necessitam o
alfabeto e as tecnologias serem apropriadas pelas pessoas para que aquelas
efetivamente sejam ferramentas de cidadania. A inclusão digital trouxe novos
estilos de fala e escrita, portanto aqueles que estão excluídos do sistema pela
fome ou desemprego certamente não terão acesso às tecnologias.
Portanto, inclusão continua sendo um desafio
em aberto. Posto isso, voltar ao tema de como as crianças acessam a leitura e a
escrita revigora o debate acerca da alfabetização. Deixemos que fale a autora,
que com a propriedade conferida pelo estudo e as teses desenvolvidas pode nos
instigar a adentrar neste universo sempre inconcluso do conhecimento.
“As
crianças – todas as crianças, garanto – estão dispostas para a aventura da
aprendizagem inteligente. Estão fartas de ser tratadas como infradotadas ou
como adultos em miniatura. São o que são e tem direito a ser o que são: seres mutáveis
por natureza, porque aprender e mudar é seu modo de ser no mundo.”(FERREIRO,
pg.39)
Boa noite Mara!
ResponderExcluirTuas postagens demonstram o quanto já estás ambientada com o curso e o que ele vem te proporcionando!
Avante querida!
Abraço
Paty
Oi Mara!
ResponderExcluirMuito bom ler tuas reflexões referentes aos estudos realizados na interdisciplina de fundamentos da alfabetização.
bjo
Rocheli