segunda-feira, 26 de outubro de 2015

                                     
                                    Crianças e seu ofício. 

 Ler e escrever num mundo em transformação, texto extraído do livro Passado e Presente dos Verbos Ler e Escrever (Cortez Editora, 2005, 92 páginas) da pesquisadora Emília Ferreiro traz um apanhado de suas ideias sobre o ato de aprender a ler e escrever no decurso da história humana no que concerne aos impactos sobre o aprendizado nas gerações que se sucedem. Segundo a autora “essas crianças (todas as crianças) não precisam ser motivadas para aprender. Aprender é seu ofício.”
                 


   Ao contextualizar o ato de ler e escrever enquanto profissão, no qual “os que escreviam não eram leitores autorizados, e os leitores autorizados não eram escribas” (FERREIRO, pg.12) e para tanto estes profissionais passavam por um treinamento rigoroso a autora convoca o ouvinte/leitor a acompanhá-la na reflexão acerca dos problemas gerados a partir da democratização da leitura e  da escrita. Conforme a autora, “todos os problemas da alfabetização começaram quando se decidiu que escrever não era uma profissão, mas uma obrigação, e que ler não era marca de sabedoria, mas de cidadania.”
   De acordo com Emília Ferreiro ler e escrever são construções sociais. A escola pública foi criada para dar conta destas construções no que se refere à cidadania baseada na alfabetização. Ao fim e ao cabo, a função prevista para a escola não se efetivou, pois “continua a ensinar uma técnica, (FERREIRO, pg.13) em detrimento do ensino no qual o aluno é chamado a construir o seu conhecimento a partir de suas experiências.” Como se não bastasse, o fracasso escolar surge como explicação para a total desarticulação entre o ensino/aprendizagem. Primeiramente o aluno é o ator responsável pelo fracasso e na sequência a família/contexto social. No que se refere ao contexto social, infere-se que o analfabetismo resulta da pobreza. Sobre isso a autora diz: “apesar de centenas de promissoras declarações de compromisso nacional e internacional, a humanidade ingressa no século XXI com um bilhão de analfabetos no mundo (enquanto em 1980 eram 800 milhões)”.
   Além do analfabetismo, agora estamos às voltas com o iletrismo, termo cunhado nos países ricos para definir a ausência da prática de leitura cotidiana resultado da inexistência do prazer em ler. “E isso é grave: se a escola não alfabetiza para a vida e o trabalho... para que e para quem alfabetiza?” (FERREIRO, pg. 17)
   A autora defende a ideia de que é necessário empreender esforços para aumentar o número de leitores plenos para que estes sejam cidadãos exigidos pela democracia e também pelo advento da internet que no seu bojo desafia o usuário a escolher informações.
   Qualificar as novas tecnologias como “democráticas” é reduzir o papel da democratização do acesso às mesmas. Conforme a autora, nem mesmo o alfabeto é democrático em si mesmo. Necessitam o alfabeto e as tecnologias serem apropriadas pelas pessoas para que aquelas efetivamente sejam ferramentas de cidadania. A inclusão digital trouxe novos estilos de fala e escrita, portanto aqueles que estão excluídos do sistema pela fome ou desemprego certamente não terão acesso às tecnologias.
   Portanto, inclusão continua sendo um desafio em aberto. Posto isso, voltar ao tema de como as crianças acessam a leitura e a escrita revigora o debate acerca da alfabetização. Deixemos que fale a autora, que com a propriedade conferida pelo estudo e as teses desenvolvidas pode nos instigar a adentrar neste universo sempre inconcluso do conhecimento.
                                                                                                                             


   “As crianças – todas as crianças, garanto – estão dispostas para a aventura da aprendizagem inteligente. Estão fartas de ser tratadas como infradotadas ou como adultos em miniatura. São o que são e tem direito a ser o que são: seres mutáveis por natureza, porque aprender e mudar é seu modo de ser no mundo.”(FERREIRO, pg.39)








2 comentários:

  1. Boa noite Mara!
    Tuas postagens demonstram o quanto já estás ambientada com o curso e o que ele vem te proporcionando!
    Avante querida!

    Abraço
    Paty

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  2. Oi Mara!
    Muito bom ler tuas reflexões referentes aos estudos realizados na interdisciplina de fundamentos da alfabetização.
    bjo
    Rocheli

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