sábado, 9 de julho de 2016



                              

                                    Brincar e o Outro

Sem dúvida alguma, brincar é importante porque oportuniza à criança possibilidades de experimentar através das interações  o que ela vivencia. Portanto, poderá compreender a realidade e como nela está inserida. Ao brincar a criança experimenta e formula conceitos que irão dar suporte às próximas descobertas.
Atualmente a instituição escolar é o lugar onde as crianças podem brincar, pois este é o espaço onde aquelas passam a maior parte de seu dia, consequentemente há necessidade de estabelecer estratégias para que as brincadeiras, os jogos possam contribuir para o desenvolvimento pleno dos alunos. Segundo Collares (2008, p. 02) apud Collares (2003, p.53):

Por isso caracterizo a escola e, em especial, a sala de aula “como um espaço de vida no qual se faz história, que é construída e reconstruída a cada dia”. As relações aí estabelecidas tecem, por si, um jogo complexo de ideias, desejos, dúvidas, curiosidades e decisões. Este jogo, por sua vez, tece a lógica destas relações. Acolher sua complexidade é criar possibilidades para que sejamos um entre outros, num espaço no qual podemos aprender que nossa ideia não é a única, mas é importante.

É inquestionável que as interações estarão sujeitas à diversidade peculiar dos espaços que acolhem muitas crianças, portanto há que se planejar tendo em vista esta realidade e a partir desta promover atividades que contemplem todos os alunos. De acordo com Darci Collares, podemos tratar dos jogos através de três perspectivas, quais sejam, da perspectiva das interações; nos espaços abertos e propostas dirigidas pelo professor.
Ao mesmo tempo em que a instituição escolar prevê o tempo que vai ser destinado aos jogos, a família discorda desta previsão opinando que é perda de tempo. Esta dicotomia está assentada na cultura e esta preconiza que jogar não é estratégia que desenvolva o intelecto, o cognitivo e não auxilia no desenvolvimento moral.
Com o propósito de esclarecer e contribuir para dirimir esta diferença, calcada na ignorância, há que se convidar genitores e responsáveis para participarem de jogos na escola, fazerem parte de fóruns de pais e professores onde o assunto será debatido e esclarecido, enviar para casa atividades lúdicas organizadas em sala de aula que foram bem recebidas pelas crianças.
Por exemplo, uma atividade lúdica que poderia suscitar lembranças em várias gerações nas famílias, seria o convite para cantar Escravos de Jó[i], acompanhados de movimentos corporais e/ou objetos para seguir o ritmo. Os participantes fariam as combinações de como seria a sequência e se os desacordos rítmicos seriam passíveis de punição; outro seria o jogo de cartas, no qual a soma sempre será dez. A quantidade de jogadores dependerá do número de cartas disponíveis. Estas serão organizadas de um até nove. A soma de duas cartas que resultar dez, dará ao jogador o direito em retê-las. O jogador que reunir mais cartas será o vencedor. O cálculo mental estará sendo realizado de maneira lúdica, respeitando-se as regras acordadas no início.

Para Molozzi[ii]
Ao jogar e interagir socialmente com seus pares, a criança  desenvolve a habilidade de se descentrar, ou seja, deixar de ver as situações somente do seu ponto de vista, num esforço de pensar uma situação levando em conta as necessidades de todos os envolvidos.


Ao mesmo  tempo  em que descentra-se, a criança desenvolve a capacidade de cooperar que envolve  “necessidade de trocas, de negociação e de criação” (Collares, 2008, p.08). O mundo interno e a realidade da criança vão sendo entrelaçados pelas ações exigidas pelas trocas, negociações e deste movimento será criado um novo espaço onde será incluído o Outro, favorecendo a superação do egocentrismo.
Conforme Pinho (2001, p. 179) apud (Winnicott, 1975), “o brincar é um processo criativo, que coloca em jogo o mundo externo e a subjetividade. Para ele, tanto o brincar quanto a produção da cultura são formações geradas no espaço transicional.”
Enfim, brincar favorece o desenvolvimento cognitivo, intelectual e moral da criança, oportunizando que ela supere o egocentrismo e a partir desta, crie espaços para as interações necessárias para a compreensão da realidade que a circunda. Todo este manancial criativo a capacitará para inferir no meio, portanto agente de um mundo acolhedor.

Referências:
COLLARES, Darli. O jogo no cotidiano da escola: uma forma de ser e de estar na vida. 2008
Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/mod/folder/view.php?id=977132 Acesso em: 09/07/16
PINHO, Gerson Smiech. O brincar na clínica interdisciplinar com crianças.2001
Disponível em:  https://moodle.ufrgs.br/mod/folder/view.php?id=977132 Acesso em: 09/08/16





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