Brincar e o Outro
Sem
dúvida alguma, brincar é importante porque oportuniza à criança possibilidades
de experimentar através das interações o
que ela vivencia. Portanto, poderá compreender a realidade e como nela está
inserida. Ao brincar a criança experimenta e formula conceitos que irão dar
suporte às próximas descobertas.
Atualmente
a instituição escolar é o lugar onde as crianças podem brincar, pois este é o
espaço onde aquelas passam a maior parte de seu dia, consequentemente há
necessidade de estabelecer estratégias para que as brincadeiras, os jogos possam
contribuir para o desenvolvimento pleno dos alunos. Segundo Collares (2008, p.
02) apud Collares (2003, p.53):
Por
isso caracterizo a escola e, em especial, a sala de aula “como um espaço de
vida no qual se faz história, que é construída e reconstruída a cada dia”. As
relações aí estabelecidas tecem, por si, um jogo complexo de ideias, desejos,
dúvidas, curiosidades e decisões. Este jogo, por sua vez, tece a lógica destas
relações. Acolher sua complexidade é criar possibilidades para que sejamos um
entre outros, num espaço no qual podemos aprender que nossa ideia não é a
única, mas é importante.
É
inquestionável que as interações estarão sujeitas à diversidade peculiar dos
espaços que acolhem muitas crianças, portanto há que se planejar tendo em vista
esta realidade e a partir desta promover atividades que contemplem todos os
alunos. De acordo com Darci Collares, podemos tratar dos jogos através de três
perspectivas, quais sejam, da perspectiva das interações; nos espaços abertos e
propostas dirigidas pelo professor.
Ao
mesmo tempo em que a instituição escolar prevê o tempo que vai ser destinado
aos jogos, a família discorda desta previsão opinando que é perda de tempo. Esta
dicotomia está assentada na cultura e esta preconiza que jogar não é estratégia
que desenvolva o intelecto, o cognitivo e não auxilia no desenvolvimento moral.
Com
o propósito de esclarecer e contribuir para dirimir esta diferença, calcada na ignorância,
há que se convidar genitores e responsáveis para participarem de jogos na
escola, fazerem parte de fóruns de pais e professores onde o assunto será
debatido e esclarecido, enviar para casa atividades lúdicas organizadas em sala
de aula que foram bem recebidas pelas crianças.
Por
exemplo, uma atividade lúdica que poderia suscitar lembranças em várias
gerações nas famílias, seria o convite para cantar Escravos de Jó[i], acompanhados de
movimentos corporais e/ou objetos para seguir o ritmo. Os participantes fariam
as combinações de como seria a sequência e se os desacordos rítmicos seriam
passíveis de punição; outro seria o jogo de cartas, no qual a soma sempre será
dez. A quantidade de jogadores dependerá do número de cartas disponíveis. Estas
serão organizadas de um até nove. A soma de duas cartas que resultar dez, dará
ao jogador o direito em retê-las. O jogador que reunir mais cartas será o
vencedor. O cálculo mental estará sendo realizado de maneira lúdica,
respeitando-se as regras acordadas no início.
Para
Molozzi[ii]
Ao jogar
e interagir socialmente com seus pares, a criança desenvolve a habilidade de se descentrar, ou
seja, deixar de ver as situações somente do seu ponto de vista, num esforço de
pensar uma situação levando em conta as necessidades de todos os envolvidos.
Ao
mesmo tempo em que descentra-se, a criança desenvolve a capacidade de cooperar
que envolve “necessidade de trocas, de negociação
e de criação” (Collares, 2008, p.08). O mundo interno e a realidade da criança
vão sendo entrelaçados pelas ações exigidas pelas trocas, negociações e deste
movimento será criado um novo espaço onde será incluído o Outro, favorecendo a
superação do egocentrismo.
Conforme
Pinho (2001, p. 179) apud (Winnicott,
1975), “o brincar é um processo criativo, que coloca em jogo o mundo externo e
a subjetividade. Para ele, tanto o brincar quanto a produção da cultura são
formações geradas no espaço transicional.”
Enfim,
brincar favorece o desenvolvimento cognitivo, intelectual e moral da criança,
oportunizando que ela supere o egocentrismo e a partir desta, crie espaços para
as interações necessárias para a compreensão da realidade que a circunda. Todo
este manancial criativo a capacitará para inferir no meio, portanto agente de
um mundo acolhedor.
Referências:
COLLARES, Darli. O jogo no cotidiano da escola: uma forma de
ser e de estar na vida. 2008
Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/mod/folder/view.php?id=977132
Acesso em: 09/07/16
PINHO, Gerson Smiech. O brincar na clínica interdisciplinar com
crianças.2001
[i] Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=IE9XCKdh7v8
[ii]
Disponível em: http://nuted.ufrgs.br/oa/JogoEdu/guia.html
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