terça-feira, 1 de maio de 2018


                                    
                                 Currículo X Modo de produção
                                        
Sem dúvida alguma, os currículos elaborados pelos sistemas educacionais do século passado, percorrendo todo o século XX, foram influenciados pelos modos de produção daqueles períodos, dentre estes o Taylorismo & Fordismo, pois o aparato escolar é parte da sociedade.
De acordo com Santomé (1998, p.1)

Nas análises efetuadas a partir do final do século passado e durante todo o século XX, sobre o significado dos processos de escolarização e, consequentemente, sobre os conteúdos culturais que se manejam nos centros de ensino, chama poderosamente atenção à denúncia sistemática do distanciamento existente entre a realidade e as instituições escolares.

De fato, o afastamento do cotidiano é recorrente nas escolas, pois o planejamento assentado no currículo prevê que os alunos decorem fórmulas, localizem estados e países,  aprendam regras para dissertações, entre outras e não contemplam a reflexão, a discussão, defesa de pontos de vista, a concretização de ideias através da autoria, seja através da escrita, discurso ou pela representação plástica daquilo que foi elaborado coletivamente e individualmente.

Conforme JAPIASSU (1994, p. 48-55)

Em nosso sistema escolar, “ensina-se um saber fragmentado, que constitui um fator de cegueira intelectual, que decreta a morte da vida e que revela uma razão irracional.

A cegueira intelectual apontada por Japiassu é foto em sépia da realidade revelada  pelos índices de analfabetismo funcional demostrados pelo  Inaf[i]. Este demonstrou que 27% da população do país faz parte daquele grupo.
Para Machado (2017)[ii]
Não são poucos os brasileiros, principalmente na população adulta, que não conseguem dominar a leitura e a escrita nem entender o que leem, ou não sabem fazer cálculos, em diferentes níveis de escolaridade, inclusive com Ensino Superior completo.

Ainda Santomé (1998, p.4)

Este processo de desqualificação e atomização de tarefas ocorrido no âmbito da produção e da distribuição também foi reproduzido no interior dos sistemas educacionais. Tanto trabalhadores como estudantes verão negadas suas possibilidades de poder intervir nos processos produtivos e educacionais dos quais participam. A taylorização no âmbito educacional faz com que nem professores nem alunos possam participar dos processos de reflexão crítica sobre a realidade. A educação institucionalizada parece ter se reduzido exclusivamente a tarefas de custódia das gerações mais jovens. As análises dos currículos ocultos evidenciam que o que realmente se aprende nas salas de aula são habilidades relacionadas com a obediência e a submisão à autoridade (Santomé, 1998, p.4 apud Jackson, P.W., 1991; Torres, J., 1991)

Na passagem do século XX para o atual, o modelo de produção baseado nas ideias de Taylor e Ford não atende as exigências do mercado. O trabalho em equipe supera o trabalho individual, portanto é necessário que o trabalhador possa inferir, decidir, escolher, junto aos seus pares.

Santomé (1998, p.7) assevera:

Na filosofia toyotista[iii] existe uma organização e reorganização do trabalho de acordo com os princípios de flexibilidade horizontal e vertical e de multifuncionalidade. Pode-se afirmar que existe uma importante redescoberta do interesse da pessoa trabalhadora como elemento chave da rentabilidade e competitividade da empresa; existe o convencimento de que, sem sua cooperação e compromisso, é impossível aumentar a produtividade e melhorar a qualidade.

No que tange à mudança de paradigma no que se refere às alterações ocorridas nos planejamentos e currículos escolares, Santomé (1998, p.10) afirma que

[...] numerosas propostas pedagógicas que estão sendo divulgadas por instâncias ministeriais pertencentes ao próprio Governo, que atualmente também está contribuindo com a flexibilização dos mercados de trabalho, adquirem sentido se levarmos em consideração esta interdependência entre a esfera econômica e a educacional. Conceitos e propostas como as de ―descentralização‖, ―autonomia dos centros escolares‖, ―flexibilidade dos programas escolares‖, ―liberdade de escolha de instituições docentes‖, etc., têm sua correspondência na descentralização das grandes corporações industriais, na autonomia relativa de cada fábrica, na flexibilidade de organização para ajustar-se à variabilidade de mercados e consumidores, nas estratégias de melhora de produtividade baseada nos círculos de qualidade, na avaliação e supervisão central para controlar a validade e o cumprimento dos grandes objetivos da empresa, etc.


Portanto, é possível concluir que a escola, como parte da sociedade, sofre influência direta das escolhas de modelo econômico e administrativo que permeiam o tecido social e o resultado é a permanente disputa entre os indivíduos que se envolvem direta e indiretamente com a construção do conhecimento e a divulgação deste para as novas gerações e para aqueles sujeitos excluídos do processo.

Referências:
JAPIASSU, Hilton. A questão da interdisciplinaridade. Revista Paixão de Aprender. Secretaria Municipal de Educação, novembro, n°8, p. 48-55, 1994 Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/course/view.php?id=51541 Acesso em: 01/05/18
MACHADO. Sandra. Os parâmetros do analfabetismo funcional. MultiRio. Rio de Janeiro, RJ. 2017 Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/12236-os-par%C3%A2metros-do-analfabetismo-funcional Acesso em: 01/05/2018
SATOMÉ. Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade. O Currículo Integrado. Dispoível em https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2399549/mod_resource/content/1/As%20origens%20da%20modalidade%20de%20curr%C3%ADculo%20integrado%20de%20Santom%C3%A9.pdf Acesso em: 01/05/18
__________ibdi., p.4.
__________ibid., p.7.
__________ibid., p.10




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