Currículo
X Modo de produção
Sem
dúvida alguma, os currículos elaborados pelos sistemas educacionais do século
passado, percorrendo todo o século XX, foram influenciados pelos modos de produção
daqueles períodos, dentre estes o Taylorismo & Fordismo, pois o aparato
escolar é parte da sociedade.
De
acordo com Santomé (1998, p.1)
Nas
análises efetuadas a partir do final do século passado e durante todo o século
XX, sobre o significado dos processos de escolarização e, consequentemente,
sobre os conteúdos culturais que se manejam nos centros de ensino, chama poderosamente
atenção à denúncia sistemática do distanciamento existente entre a realidade e
as instituições escolares.
De
fato, o afastamento do cotidiano é recorrente nas escolas, pois o planejamento assentado
no currículo prevê que os alunos decorem fórmulas, localizem estados e países, aprendam regras para dissertações, entre
outras e não contemplam a reflexão, a discussão, defesa de pontos de vista, a concretização
de ideias através da autoria, seja através da escrita, discurso ou pela representação
plástica daquilo que foi elaborado coletivamente e individualmente.
Conforme
JAPIASSU (1994, p. 48-55)
Em
nosso sistema escolar, “ensina-se um saber fragmentado, que constitui um fator
de cegueira intelectual, que decreta a morte da vida e que revela uma razão
irracional.
A
cegueira intelectual apontada por Japiassu é foto em sépia da realidade
revelada pelos índices de analfabetismo funcional
demostrados pelo Inaf[i].
Este demonstrou que 27% da população do país faz parte daquele grupo.
Para
Machado (2017)[ii]
Não
são poucos os brasileiros, principalmente na população adulta, que não
conseguem dominar a leitura e a escrita nem entender o que leem, ou não sabem
fazer cálculos, em diferentes níveis de escolaridade, inclusive com Ensino
Superior completo.
Ainda
Santomé (1998, p.4)
Este
processo de desqualificação e atomização de tarefas ocorrido no âmbito da produção
e da distribuição também foi reproduzido no interior dos sistemas educacionais.
Tanto trabalhadores como estudantes verão negadas suas possibilidades de poder intervir
nos processos produtivos e educacionais dos quais participam. A taylorização no
âmbito educacional faz com que nem professores nem alunos possam participar dos
processos de reflexão crítica sobre a realidade. A educação institucionalizada
parece ter se reduzido exclusivamente a tarefas de custódia das gerações mais
jovens. As análises dos currículos ocultos evidenciam que o que realmente se
aprende nas salas de aula são habilidades relacionadas com a obediência e a
submisão à autoridade (Santomé, 1998, p.4 apud
Jackson, P.W., 1991; Torres, J., 1991)
Na
passagem do século XX para o atual, o modelo de produção baseado nas ideias de Taylor
e Ford não atende as exigências do mercado. O trabalho em equipe
supera o trabalho individual, portanto é necessário que o trabalhador possa inferir,
decidir, escolher, junto aos seus pares.
Santomé
(1998, p.7) assevera:
Na
filosofia toyotista[iii]
existe uma organização e reorganização do trabalho de acordo com os princípios
de flexibilidade horizontal e vertical e de multifuncionalidade. Pode-se
afirmar que existe uma importante redescoberta do interesse da pessoa
trabalhadora como elemento chave da rentabilidade e competitividade da empresa;
existe o convencimento de que, sem sua cooperação e compromisso, é impossível
aumentar a produtividade e melhorar a qualidade.
No
que tange à mudança de paradigma no que se refere às alterações ocorridas nos
planejamentos e currículos escolares, Santomé (1998, p.10) afirma que
[...]
numerosas propostas pedagógicas que estão sendo divulgadas por instâncias ministeriais
pertencentes ao próprio Governo, que atualmente também está contribuindo com a
flexibilização dos mercados de trabalho, adquirem sentido se levarmos em
consideração esta interdependência entre a esfera econômica e a educacional.
Conceitos e propostas como as de ―descentralização‖, ―autonomia dos centros
escolares‖, ―flexibilidade dos programas escolares‖, ―liberdade de escolha de
instituições docentes‖, etc., têm sua correspondência na descentralização das
grandes corporações industriais, na autonomia relativa de cada fábrica, na
flexibilidade de organização para ajustar-se à variabilidade de mercados e
consumidores, nas estratégias de melhora de produtividade baseada nos círculos
de qualidade, na avaliação e supervisão central para controlar a validade e o
cumprimento dos grandes objetivos da empresa, etc.
Portanto,
é possível concluir que a escola, como parte da sociedade, sofre influência direta
das escolhas de modelo econômico e administrativo que permeiam o tecido social
e o resultado é a permanente disputa entre os indivíduos que se envolvem direta
e indiretamente com a construção do conhecimento e a divulgação deste para as
novas gerações e para aqueles sujeitos excluídos do processo.
Referências:
JAPIASSU, Hilton. A
questão da interdisciplinaridade. Revista Paixão de Aprender. Secretaria
Municipal de Educação, novembro, n°8, p. 48-55, 1994 Disponível em: https://moodle.ufrgs.br/course/view.php?id=51541
Acesso em: 01/05/18
MACHADO. Sandra. Os parâmetros do analfabetismo funcional.
MultiRio.
Rio de Janeiro, RJ. 2017 Disponível em: http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/leia/reportagens-artigos/reportagens/12236-os-par%C3%A2metros-do-analfabetismo-funcional
Acesso em: 01/05/2018
SATOMÉ. Jurjo Torres. Globalização e Interdisciplinaridade. O
Currículo Integrado. Dispoível em https://moodle.ufrgs.br/pluginfile.php/2399549/mod_resource/content/1/As%20origens%20da%20modalidade%20de%20curr%C3%ADculo%20integrado%20de%20Santom%C3%A9.pdf
Acesso em: 01/05/18
__________ibdi., p.4.
__________ibid., p.7.
__________ibid., p.10
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