sábado, 26 de dezembro de 2015




                                                                     Exercício Dialético

Discutir Infâncias, conceito cultural, exige abordagens interdisciplinares.  Portanto é necessário transitar por áreas distintas, porém correlatas. A Interdisciplina Infâncias de 0 a 10 Anos propiciou, através de indicações de leituras e teóricos, a construção de análises e teses a respeito das múltiplas Infâncias forjadas pelas sociedades.
Como resultado, produzi algumas teses a partir das demandas que a Interdiscplina exigiu. A primeira delas versa sobre o conceito de Infância. Sobre este conceito escrevi e postei no fórum específico. Abaixo a transcrição:
 “O conceito cultural Infância foi cunhado na Modernidade. A partir deste período histórico a criança passou a ser reconhecida como promessa na construção do homem quando este passa a ser o centro das preocupações dos estudos filosóficos. Por ser conceito cultural a Infância refletirá as diversas culturas, consequentemente teremos inúmeras Infâncias.”
Seguimos discutindo o tema central desta Interdisciplina e fomos provocadas a analisar a mídia e seus impactos na vida das crianças. Para embasar e iniciar as discussões foram indicados textos escritos por Contardo Calligaris e Mariangela Momo. E deste trabalho fomos convidadas a escrever um texto, no qual demonstrássemos nossa posição diante da Infância nas mídias. O texto abaixo transcrito foi o resultado desta reflexão:
“Indiscutivelmente as crianças estão expostas aos mais diversos estímulos para que sejam elas a decidir sobre o que querem consumir, desde a comida até o modelo do celular. Entre aquelas e os pais há a mídia sedenta por aumentar o número de consumidores de tudo o que pode ser vendido, e entre as novidades há a venda da felicidade hoje oferecida em “frascos” de todos os feitios e tamanhos.
A mídia descobriu o quanto as crianças até os 12 anos são vulneráveis, tanto quanto as relações familiares e apostou nos talentos e investimentos para ter este filão à disposição da ferrenha disposição em aumentar os lucros.
Consequentemente  as peças publicitárias são elaboradas tendo como o sujeito central a criança. Crianças felizes ao vestirem e calçarem uma determinada marca, acessando tecnologia em grupo, fazendo refeições com os pais regadas a comida instantânea. Felicidade em cápsulas. Prontas para serem vendidas a quem puder pagar o preço aferido.
Concluo com uma frase proferida pelo professor Mário Sérgio Cortella, proferida no Fórum Internacional Criança e Consumo, 2011,“...consumo não está atrelado às crianças, mas  de fato é uma educação coletiva...”
Além do texto indicado acima, assinado por Momo, o texto Mídia e Consumo na produção da Infância Pós-Moderna da autora, nos levou a refletir sob a ótica de Baumann, Lyotard, Lipvetski, Lemert, Harvey sobre o mundo contemporâneo e seus impactos sobre a vida da Categoria Geracional, defendida por Jens Qvortrup, qual seja, a Infância.
Segundo Momo (2010, p.73) há convergência, no que tange à mídia e ao consumo, entre os autores acima citados, quando estes versam sobre o mundo contemporâneo.
Além dessas abordagens, discutimos e desenvolvemos teses sobre  modos de representação da criança.  A infância erotizada, infância soft, tendências representativas da infância pelo viés étnico-racial, criança selvagem, normal e social. Temas que permeiam nossas práticas pedagógicas.
Do mesmo modo em que o diálogo é viabilizado entre autores, realizo o exercício deste quando procuro sistematizar o que li e estudei. Como resultado, vou travando diálogos que me permitem  transitar por áreas similares, fazendo o exercício dialético. Visto que há um ponto de partida, cito o texto de Sarmento (2000), que me levou novamente a Qvortrup (2011) que tinha sido estudado anteriormente.
Em virtude deste exercício dialético, produzi outra síntese, esta baseada nas teorias dos autores citados. Abaixo a transcrição do texto denominado Infância e Seu Lugar no Mundo, publicado no blog.
Portanto, o exercício constante de reflexão sobre a Infância proporcionou outros lugares de onde pude observar a constituição desta Categoria Geracional, qual seja, a Infância. Deste exercício pude desenvolver minhas teses que serão o suporte para novas indagações, formulações e teses.


   





terça-feira, 22 de dezembro de 2015



                                                     Infância Roubada             

      Crianças Invisíveis, filme produzido por Chiara Tilesi e dirigido por Mehdi Charef, Emir Kusturica, Spike Lee, Katia Lund, Jordan Scott, Ridley Scott, Stefano Veneruso e John Woo retrata histórias nas quais crianças de culturas diferentes são vítimas da supressão de sua infância e o resultado é a perda de visibilidade destas pela família e sociedade.  As histórias são retratadas ora de maneira poética, ora de maneira realista fazendo um convite à reflexão.
     Histórias densas que refletem a delicadeza inerente à humanidade preservada de cada um dos personagens apesar das vicissitudes impostas pela negligência. O exemplo de Tanga, o menino-soldado, que ao chegar a sua aldeia, busca seus brinquedos escondidos pela guerra e a lágrima contida escorre pelo belo rosto. Outra história comovente é o curta-metragem brasileiro dirigido por Katia Lund. Bilú e João são crianças adoráveis que driblam as vicissitudes com inocência e imaginação. Conseguem andar pelas ruas de uma grande cidade a bordo de um carrinho-de-papeleiro imaginando estarem pilotando uma Ferrari. “Quando recebi a proposta de participar deste projeto fiquei pensando em que história iria contar. Não queria mais falar sobre o tráfico, sobre o dia-a-dia das crianças que se envolvem com as drogas. Optei pelas crianças que vivem em comunidades carentes, mas que não entram para o tráfico, que não se envolvem com as drogas – o que representa na verdade a grande maioria dos jovens, 99%”. (Katia Lund, 2002)
    Segundo a UNICEF, “nos casos extremos, essas crianças realmente desaparecem da vista de todos – tornam-se invisíveis em suas comunidades e sociedades. É difícil obter evidências consistentes da extensão das violações do direito à proteção, que aumentam os riscos de que essas crianças se tornem invisíveis. No entanto, aparentemente, quatro fatores são fundamentais em muitas delas: a falta ou a perda de uma identidade formal; proteção inadequada por parte do Estado para crianças sem cuidados familiares; exploração de crianças por meio do tráfico e de trabalho forçado; e a entrada prematura das crianças em papéis adultos, como casamento, trabalho sob condições perigosas, e conflito armado. Embora esses fatores não sejam os únicos a causar a invisibilidade das crianças, certamente estão entre os mais significativos, com consequências que, frequentemente, estendem-se muito além da infância.”
   O filme ilumina situações recorrentes em todas as regiões do planeta para que os governos, sociedades e cidadãos se sensibilizem com a perda de direitos por crianças que dependem da proteção integral destes atores.  Crianças com nomes tão comuns como qualquer criança que encontramos no cotidiano. A singularidade destas crianças retratadas no filme é estarem invisíveis diante dos olhos de homens e mulheres que tem o dever de protegê-las para que possam crescer e brincar, descansar e aprender.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015





                                                Felicidade em Cápsulas

Indiscutivelmente as crianças estão expostas aos mais diversos estímulos para que sejam elas a decidir sobre o que querem consumir, desde a comida até o modelo do celular. Entre aquelas e os pais há a mídia sedenta por aumentar o número de consumidores de tudo o que pode ser vendido, e entre as novidades há a venda da felicidade hoje oferecida em “frascos” de todos os feitios e tamanhos.

A mídia descobriu o quanto as crianças até os 12 anos são vulneráveis, tanto quanto as relações familiares e apostou nos talentos e investimentos para ter este filão à disposição da ferrenha disposição em aumentar os lucros.

Consequentemente as peças publicitárias são elaboradas tendo como o sujeito central a criança. Crianças felizes ao vestirem e calçarem uma determinada marca, acessando tecnologia em grupo, fazendo refeições com os pais regadas a comida instantânea. Felicidade em cápsulas. Prontas para serem vendidas a quem puder pagar o preço aferido.
Concluo com uma frase proferida pelo professor Mário Sérgio Cortella, proferida no Fórum Internacional Criança e Consumo, 2011,“...consumo não está atrelado às crianças, mas  de fato é uma educação coletiva...”

                                                             

                                             

terça-feira, 1 de dezembro de 2015






                         Infância e o seu lugar no mundo

São indissociáveis os conceitos Infância e Modernidade. Um signo que baliza a Modernidade em seus primórdios é a razão. Portanto a inclusão da criança como devir do adulto calcado na razão, confere a partir deste período um lugar para a criança, uma Categoria Geracional, qual seja, a Infância ocupando um lugar específico na sociedade.
Se a partir da Modernidade a criança como parte de uma categoria, ocupa um lugar na sociedade, então passa a ter o seu cotidiano administrado de maneira organizada pelos regramentos elaborados pelos adultos. A administração simbólica da infância é um conjunto de regramentos, roteiros escritos e inferidos. Como se portar, onde circular, com quem se relacionar são inerentes à cada sociedade, portanto as pluralidades no ser criança nos permite concluir que temos infâncias.
A institucionalização é o meio pelo qual a Infância é recepcionada na sociedade e aquela se dará a partir da escola e da família e estas instituições aplicam os regramentos e os roteiros elaborados.
Indissociável das instituições família, escola e infância na Pós-Modernidade  está a globalização a instituir a infância mundial, acarretando redefinições na  administração da vida das crianças, incrementada pela  Convenção dos Direitos da Criança, UNICEF, OIT, OMS, associadas aos regramentos que cada sociedade elabora. A globalização da infância é resultado de mudanças econômicas, políticas, culturais e sociais que impactam as instituições que recepcionam as crianças.
Por conseguinte, a globalização influencia o cotidiano nas sociedades e acarreta mudanças nas instituições. A mudança mais significativa é o tempo reduzido que os genitores tem para dedicar aos filhos, portanto os cuidados diários são declinados às instituições de acolhimento e educação, gerando a reinstitucionalização da infância.
A globalização, signo que corrompe identidades por oferecer ideia hegemônica de modo de vida, afeta diretamente a infância, pois esta é a categoria social que não tem poder de decisão, portanto sujeita ás decisões políticas e econômicas, que ao fim e ao cabo determinam distribuição de riqueza desigual.
Consequentemente fome, guerras, doenças fazem parte do cotidiano de muitas sociedades e as crianças os sujeitos mais atingidos.
Frente à situação atual vivenciada pelas crianças, qual seja, novos arranjos  exigidos das instituições, consequentemente a infância tem seu lugar rediscutido. Mas não deixará de pertencer e estar na sociedade, somente precisará se reinventar através de seu jogo predileto conforme Sarmento (2000, p.16) o brinquedo e o brincar são também fator fundamental na recriação do mundo e na produção de fantasias. 


                                            Referências Bibliográficas

Sarmento, Manuel Jacinto (2000). As Culturas da  Infância Nas Encruzilhadas da 2ª Modernidade, Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho






domingo, 29 de novembro de 2015




      
                      
                 
Fa            do
        R


  Se for demais o fardo, se for fardo...pare!
                   
             Tire os sapatos.
                                 
                              Descalce-os...

                      Solte os cabelos. Balance-os ao vento.....

                                             ...........e ouça o silêncio até que deixe de


  ser  fardo e torne-se um fado.


                                     

                                 
https://www.youtube.com/watch?v=n6LdDqvrIHE



                         

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

                                                                      


                                                                                                                                           Infância e Sociedade

     Sem dúvida alguma, a infância é parte constitutiva da sociedade. Sendo parte, forma-se no espaço e no tempo, portanto as crianças terão seu cotidiano moldado pelas decisões políticas e econômicas e estas não respeitam fronteiras, muito menos as necessidades humanas exigidas para o pleno desenvolvimento.
    Visto que as crianças estão sujeitas aos ditames da economia e da política, cabe aos adultos responsáveis por elas diretamente e todos os outros atores, cuidarem para que os acordos estruturais não retirem direitos básicos para o pleno desenvolvimento daquelas que em última instância “chegam por último” na sociedade e precisam ser respeitadas no que tange aos cuidados básicos.
   Há pensadores debruçados sobre os temas que incidem sobre a infância. Dentre eles figura Jens Qvortrup, sociólogo dinamarquês que defende a tese de que “categoria geracional é aquela que define o lugar ocupado pela infância na sociedade.” (Nascimento, 2011, p.199) Posto deste modo, afirma o cientista que há “necessidade de uma abordagem interdisciplinar para estabelecer relações entre infância, como categoria, e as crianças, em suas vivências cotidianas.”(Qvortrup, 1993, p. 11-18) O autor quer dizer que há necessidade de contemplar no planejamento de políticas publicas o cuidado com o bem-estar das crianças, quais sejam, atendimento à saúde, segurança alimentar, espaços públicos que atendam a necessidade de circulação, previsões de moradia, educação. Concentrar estudos e planejamento que incluam as crianças é exigência para garantir a inclusão da infância como parte da sociedade.
  Em outras palavras, citando outra vez Qvortrup, “as crianças são indiscutivelmente parte da sociedade e do mundo e é possível e necessário conectar a infância às forças estruturais maiores, mesmo nas análises sobre economia global.”
 O autor refere-se ao microcosmo e às macroforças, pois estas e aquele estão  interligados. O nível micro é aquele no qual a criança está inserida, qual seja, a família, escola, comunidade. Estas instituições são impactadas pelas macroforças, quais sejam, as forças econômicas que incidem sobre o meio ambiente, planejamento urbano, decisões políticas.
 Em suma, a infância como categoria geracional confere à criança condição para cidadania, porém para a efetivação deste status é necessário incluir e recepcionar direitos inerentes ao desenvolvimento pleno para que as crianças vivam como atores e criadores e que não sejam meros espectadores da sociedade em constante (re)construção.

                                               

quarta-feira, 25 de novembro de 2015




               Dilema Pós-Moderno 

     

Dizemos que “as crianças não respeitam mais o professor”, “as crianças não gostam da escola”. Como as crianças tivessem que responder questões sem que estas sejam propostas ou mesmo impostas.  Somente crianças frequentam instituições escolares, ou os professores, funcionários, professores em cargos diretivos e os “especialistas” também a frequentam?
Portanto, as interações entre alunos e demais atores pertencem ao universo escolar e daquelas surgirão respostas, discordâncias e dilemas. Sendo a escola “uma instituição que é um lugar na cultura”(Momo, 2010, p. 74) é correto afirmar que aquela sofra as consequências imediatas dos dilemas enfrentados pela sociedade em constante mudança, principalmente na Pós-Modernidade, pois o período é marcado pela liquidez (lugar, tempo e forma inexistem), pela efemeridade (tudo é descartável e instantâneo).
A indagação necessária sobre quais os motivos que levam uma criança em idade escolar a não “gostar” de estar na escola ou desrespeitar seus professores interessa a toda a sociedade, pois aquilo que o aluno expressa no ambiente escolar é construído a partir das representações sociais às quais ele está submetido e muitas daquelas chegam através da mídia. As narrativas oferecidas (impostas) pelos meios de comunicação de massa reforçam a instantaneidade, a descartabilidade.
Consequentemente teremos a contínua “perda de autoridade” por parte daqueles que deveriam contribuir com a experiência, quais sejam, aqueles que “vieram antes”, os que deveriam ser os anfitriões no mundo criado por gerações pretéritas.

         



         







                                     

segunda-feira, 16 de novembro de 2015





                                                           Eu e o Outro


Um ser "desejante de saber", segundo Sigmund Freud, é toda pessoa que pergunta para situar-se e entender o mundo e dele participar/desfrutar. Esta "entrada" no mundo acontece a partir das relações familiares, mais precisamente com os primeiros cuidadores e estes serão as referências tanto positivas quanto negativas em todas as interações futuras. Ser no mundo exige ser para alguém primeiro. Eu e o outro. Esta será sempre a tensão que provocará a busca pelo conhecimento do mundo e no mundo.

Enquanto vai se constituindo, a criança experimenta, testa as reações dos adultos espelhadas na reação já vivenciada com os primeiros modelos e este exercício constante fornecerá sinais, pistas de como deve reagir/agir diante de situações cotidianas. Este movimento tanto reafirmará convicções, quanto colocará em dúvida comportamentos resultantes. Estas interações foram denominadas por Freud como transferência. O adulto será o meio pelo qual a criança fará seu “laboratório” para sua s futuras andanças. Segundo Freud (1901) transferências “são reedições dos impulsos e fantasias despertadas e tornadas conscientes durante o desenvolvimento da análise e que trazem como característica a substituição de uma pessoa anterior pela pessoa do médico.”

O adulto será desafiado enquanto o ser com o qual a criança fará suas “experimentações” para ser no mundo. Ora, se para ser alguém a criança necessita de “algo” para exercitar o quanto/como a humanidade lhe é possível, então ele o adulto, precisará deixar de lado, não abandonar, mas permitir que a criança seja, enquanto “não sou” para que ela vivencie a partir daquilo que somos enquanto pessoas que já entendem as dinâmicas relacionais. Para este movimento foi cunhado o termo contra referência.

               Contranarciso                                         
em mim eu vejo o outro e outro e outro enfim dezenas trens passando vagões cheios de gente
centenas o outro que há em mim é você você e você assim como eu estou em você eu estou nele em nós e só quando estamos em nós estamos em paz mesmo que estejamos a sós 

Paulo Leminski, 1983



terça-feira, 10 de novembro de 2015




                                                         Ler o mundo


Somos seres culturais, portanto resultado das interações que travamos cotidianamente. Essas interações dependem da comunicação, que ao fim e ao cabo é o fio invisível que une a todos constantemente.
Se a comunicação é indispensável para tecer a humanidade, não havendo a compreensão do que escutamos e falamos acarretará a não-humanidade? Ou uma meia-humanidade?
Ora, se somos seres culturais resultantes da comunicação, como aceitar sociedades que convivem com o analfabetismo ou com qualquer definição que delimite em torno de muitas pessoas um fio invisível, que ao contrário de unir, separa?
Por outro lado, porque alguns continuam à margem pela incapacidade de comunicar-se plenamente, se já conhecemos “como” aprendemos a ler e escrever? E sabendo ler e escrever, interpretar e inferir no mundo?
Conhecer os processos pelos quais as pessoas, criança ou adulto, acessam o universo da leitura e escrita é uma poderosa arma para debelarmos a ferida aberta que causa exclusão. Conhecer requer pesquisa, dedicação e vontade.
Incorporar aos conhecimentos necessários para ser efetivo no processo ensino-aprendizagem no papel de professor exige que conheçamos, por exemplo, os fatores que interferem no processo de alfabetização, esta a porta de entrada para as interações a partir da comunicação.
Sem dúvida, a Interdisciplina Fundamentos da Educação/PEAD/UFRGS/2015 capitaneada pela professora AnnaMaria Piffero Rangel ofereceu-nos possibilidades de diferentes matizes para que pudéssemos entender como/porque/em que tempo a aquisição e construção do conhecimento ocorre. O assombro me acompanhou desde o início, pois em sala de aula algumas dificuldades de meus alunos,que já havia detectado e não sabia como mediar, foram compreendidas e desta passei a inferir.
Por fim, a admiração pela professora, que a partir da experiência nos temas abordados forneceu pistas de que é possível através da pesquisa, observação e avaliação encaminhar atividades sistematizadas e assim agindo proporcionar aos alunos possibilidades reais de aquisição das habilidades de ler e escrever no, para e com o mundo somente aumentou.


                                                                    

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

                                     
                                    Crianças e seu ofício. 

 Ler e escrever num mundo em transformação, texto extraído do livro Passado e Presente dos Verbos Ler e Escrever (Cortez Editora, 2005, 92 páginas) da pesquisadora Emília Ferreiro traz um apanhado de suas ideias sobre o ato de aprender a ler e escrever no decurso da história humana no que concerne aos impactos sobre o aprendizado nas gerações que se sucedem. Segundo a autora “essas crianças (todas as crianças) não precisam ser motivadas para aprender. Aprender é seu ofício.”
                 


   Ao contextualizar o ato de ler e escrever enquanto profissão, no qual “os que escreviam não eram leitores autorizados, e os leitores autorizados não eram escribas” (FERREIRO, pg.12) e para tanto estes profissionais passavam por um treinamento rigoroso a autora convoca o ouvinte/leitor a acompanhá-la na reflexão acerca dos problemas gerados a partir da democratização da leitura e  da escrita. Conforme a autora, “todos os problemas da alfabetização começaram quando se decidiu que escrever não era uma profissão, mas uma obrigação, e que ler não era marca de sabedoria, mas de cidadania.”
   De acordo com Emília Ferreiro ler e escrever são construções sociais. A escola pública foi criada para dar conta destas construções no que se refere à cidadania baseada na alfabetização. Ao fim e ao cabo, a função prevista para a escola não se efetivou, pois “continua a ensinar uma técnica, (FERREIRO, pg.13) em detrimento do ensino no qual o aluno é chamado a construir o seu conhecimento a partir de suas experiências.” Como se não bastasse, o fracasso escolar surge como explicação para a total desarticulação entre o ensino/aprendizagem. Primeiramente o aluno é o ator responsável pelo fracasso e na sequência a família/contexto social. No que se refere ao contexto social, infere-se que o analfabetismo resulta da pobreza. Sobre isso a autora diz: “apesar de centenas de promissoras declarações de compromisso nacional e internacional, a humanidade ingressa no século XXI com um bilhão de analfabetos no mundo (enquanto em 1980 eram 800 milhões)”.
   Além do analfabetismo, agora estamos às voltas com o iletrismo, termo cunhado nos países ricos para definir a ausência da prática de leitura cotidiana resultado da inexistência do prazer em ler. “E isso é grave: se a escola não alfabetiza para a vida e o trabalho... para que e para quem alfabetiza?” (FERREIRO, pg. 17)
   A autora defende a ideia de que é necessário empreender esforços para aumentar o número de leitores plenos para que estes sejam cidadãos exigidos pela democracia e também pelo advento da internet que no seu bojo desafia o usuário a escolher informações.
   Qualificar as novas tecnologias como “democráticas” é reduzir o papel da democratização do acesso às mesmas. Conforme a autora, nem mesmo o alfabeto é democrático em si mesmo. Necessitam o alfabeto e as tecnologias serem apropriadas pelas pessoas para que aquelas efetivamente sejam ferramentas de cidadania. A inclusão digital trouxe novos estilos de fala e escrita, portanto aqueles que estão excluídos do sistema pela fome ou desemprego certamente não terão acesso às tecnologias.
   Portanto, inclusão continua sendo um desafio em aberto. Posto isso, voltar ao tema de como as crianças acessam a leitura e a escrita revigora o debate acerca da alfabetização. Deixemos que fale a autora, que com a propriedade conferida pelo estudo e as teses desenvolvidas pode nos instigar a adentrar neste universo sempre inconcluso do conhecimento.
                                                                                                                             


   “As crianças – todas as crianças, garanto – estão dispostas para a aventura da aprendizagem inteligente. Estão fartas de ser tratadas como infradotadas ou como adultos em miniatura. São o que são e tem direito a ser o que são: seres mutáveis por natureza, porque aprender e mudar é seu modo de ser no mundo.”(FERREIRO, pg.39)








segunda-feira, 19 de outubro de 2015


                                                             Mary e Max


     O animação em técnica Stop Motion, Mary & Max - Uma Amizade Diferente, do roteirista e diretor Adam Elliot (2009) é inusitado por trazer para o universo adulto uma história densa a partir do recurso até então destinado aos pequenos, qual seja, a técnica de produção de bonecos com massinha. E também inusitado por tratar de temas caros às crianças enquanto vão se inserindo no mundo adulto através de seus personagens Mary uma menina e Max já adulto.                   
 Eu sou diferente. Mas e este que está ao meu lado não é? O que serve de limite para que a sociedade tenha parâmetros fixos para aferir diferenças excludentes?
                                   Interações sociais carregadas de frustrações, traumas infantis, negligência regada à busca pela compreensão do mundo inóspito no qual estão mergulhados Mary e Max. Para não submergirem,  trocam cartas e estas atravessam o oceano repletas de tinta escura.
                                  O assombro vai nos guiando durante 92 minutos, por vezes pela resiliência de um, ora pelo pessimismo do outro e assim a história vai sendo tecida.
                                   Certamente quem assistir verá Mary e Max completamente diferentes daquela menina desajeitada e daquele menino gordo que nos convidaram a viajar da Austrália para Nova Iorque durante 20 anos. 






http://filosofia.uol.com.br/filosofia/ideologia-sabedoria/28/artigo210016-1.asp
                                 
     

domingo, 18 de outubro de 2015



                                        "Peço a todos com licença,

                               vamos liberar o pedaço.

           Felicidade assim desse tamanho, só com muito espaço!"  

                                                                                                Luis Tatit



      Ouvimos e muitas vezes nos escapam críticas ao espaço físico oferecido pelas escolas às atividades que nelas são desenvolvidas. 
       Muitas vezes trocamos de atividade porque chove ou porque o vento castiga. Não há área coberta.
       Os livros chegam para que as crianças possam desfrutar da palavra impressa no papel, hoje uma alternativa à palavra que a tecla ENTER faz desaparecer, Mas o que ocorre com frequência são os livros serem colocados em um canto que "sobrou" dentro da estrutura física da escola, pois o espaço destinado a eles não existe. A biblioteca com cheiros, texturas, gramaturas, caleidoscópios que encantam não pode ser montada pela ausência do espaço.
       Assim sendo, falta espaço nas escolas para que as crianças possam vivenciar alegrias que o espaço coletivo oferece. Aquele das trocas, combinações, invenções e boas risadas. 
       Urge olharmos a escola como uma das possibilidades de aprendizado. Aprender na feira, no teatro, na biblioteca pública, com as gentes do entorno. 
       Há alternativas ao modelo de escola que nega a existência de espaços para aprendizagem para além dos muros, alternativas que privilegiam as trocas entre os saberes engendrados no cotidiano e aqueles forjados ao longo da história.
       Há uma ferramenta interessante sendo fomentada pelos ministérios da Cultura, MinC e da Educação, MEC desde 2011, qual seja, a plataforma CulturaEduca. Nela as informações sobre os "territórios educativos", "espaços que reúnem agentes de procedências diversas - bibliotecas públicas, coletivos culturais, cinemas, teatros, associações de bairro, escolas de educação básica e universidades - como elementos de um processo educacional mais amplo e integrador."

quinta-feira, 15 de outubro de 2015



Parabéns a todas e todos que lapidam! Que este seja um dia de reflexão e alegria. Dia 15 de Outubro dia de toda (o) aquela (e) que escolhe e se constrói aprendendo/ensinando.




                                                            "Eu vi um sonho"
                                    “Sentiu-se mal, retirou-se da projeção, foi ajudado por uma funcionária do cinema, e só adiante deu-se conta do que ocorrera: ele se lembrou de uma coisa desagradável que procurara apagar da memória,...” trecho da autobiografia de Akira Kurosawa.
                                       Aos sete anos o menino Akira descobre que pode amar a escola, os estudos e o desenho. Este foi a chave para a descoberta, pois ter seu desenho apreciado pelo professor e ainda receber a nota máxima despertou nele o desejo de permanecer em um universo até então inóspito. A lembrança desagradável já havia se instalado no inconsciente.
                                       Descobriu-se amante dos riscos e na busca pelo aperfeiçoamento do traço e do uso das cores busca inspiração nos livros. Um dia flerta com Cézanne, no outro com Van Gogh. Um dia sonha com o pintor de Vaso de Quinze Girassóis e o sonho torna-se roteiro cotidiano.
                                       Para o diretor, " mais surpreendente é a capacidade de expressão desenvolvida por nosso cérebro para dar forma aos sonhos. Quando sonha, todo homem é um gênio, é audacioso e intrépido como um gênio”.
                                      Em um "Dostoievski", O sonho de um homem ridículo (1877) ,  Akira Kurosawa entusiasma-se com a ideia desenvolvida sobre o sonho. "No conto de Dostoievski o personagem narrador diz que é ridículo desde que nasceu; que na escola, na universidade, quanto mais aprendia mais obrigado se via a reconhecer sua condição de pessoa ridícula; sabia que era ridículo mas passara a duvidar de sua condição de ridículo depois de sonhar um sonho bonito demais para ser sonhado por uma pessoa ridícula..."
                                      O menino ilustrador "viu um sonho", anotou-o e muitos outros que sonhou e deste manancial retirou cores, traços, memórias e se pôs a "contar para não esquecer"e o que contou está em Sonhos (1990), filme exibido fora da competição no Festival de Cannes no mesmo ano.






http://www.escrevercinema.com/kuorosawasonhos.htm
                                      
                                     
                                     

segunda-feira, 12 de outubro de 2015





           "O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhar para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o oasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo..."
                            Escreveu o poeta Fernando Pessoa


E Van Gogh pintou o assombro essencial

Não deixar que nos escape o arquétipo da Criança que ao deslumbrar-se com as gentes, cheiros, seres variados, com o Sol do girassol permaneça inteira na inteireza necessária para percorrer ereta o caminho.


domingo, 11 de outubro de 2015

Em meio aos escombros da alma há um cantinho reservado para sonhar. Em um espaço/tempo
que não admite memória surge algo que remete a possibilidade de futuro fugaz. Cenários distintos para destinos semelhantes. 





    "Estudem! Senão vocês vão ver! Minha prova é para valer!"

    A atualidade desta afirmação me assombrou ao pesquisar e conhecer o autor que a proferiu. Jan Amos Komenský ou Comenius, autor da Didática Magna publicada em 1632. O espanto se deve ao fato de que ainda hoje escutamos "ameaças" para que o estudante preste atenção, estude para a prova, faça as tarefas.
   Conhecer a história dos primórdios da instituição escolar, esse modelo que preconiza um professor para vários alunos que vigora desde o século XVI nos possibilita refletir sobre nosso posicionamento diante da criança ou adolescente do século XXI. Como planejo? Como executo? Avalio ou examino?
   O professor Cipriano Luckesi oferece um estudo seminal sobre essas questões. No link abaixo ele fala sobre a história da escola e o sistema de avaliação que remonta ao século XVI.


.   https://www.youtube.com/watch?v=NbHdgMGV1y0

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Antes da palavra, o mundo

  
    

                    

                 "Ninguém começa lendo a palavra porque antes da palavra o que a gente tem prá ler à disposição da gente é o mundo e a gente lê o mundo na medida que a gente o compreende e o interpreta..." Paulo Freire
                 Sem dúvida nenhuma ensinar aprendendo exige que compreendamos e interpretemos a sociedade na qual vivemos. O aluno é parte desta sociedade assim como nós os professores e desvelar o mundo requer uma comunicação capaz de promover as interações necessárias para que o aprendizado ocorra de maneira leve e instigante. No link abaixo um belíssimo vídeo. 
                                                               
https://www.youtube.com/watch?v=hgdnZDTEBiU

                                            Estudo e pesquisa: exigência docente        Ensejando a continuidade dos estudos e porvent...